quinta-feira, 31 de março de 2016

Um detalhe importante

Ao nos ensinar a orar, frisou Jesus que não seria pelo muito falar que seríamos atendidos por Deus, Nosso Pai. Ao contrário, enfatizou no templo, aos apóstolos, que a prece do publicano tinha maior poder, pela humildade de que se revestia.
Alguns de nós, quando convidados a orar em público, declinamos da oferta, porque acreditamos não saber dizer palavras bonitas.
Pensando nesses termos, é que a história seguinte se faz muito oportuna.
Uma mulher morava em uma humilde casa com sua neta muito doente. Como não tinha dinheiro para levá-la ao médico, decidiu enfrentar a caminhada de duas horas até a cidade próxima, em busca de ajuda.
No único hospital público da cidade, foi orientada a trazer a neta, que deveria ser examinada.
Pensando em como faria para trazer a criança, pois ela não conseguia sequer se manter em pé, a mulher fez o caminho de volta, desconsolada.
Ao passar defronte a um templo religioso, decidiu entrar e, porque visse outras pessoas orando, pediu a elas que orassem por sua netinha.
Passados alguns minutos, ela mesma se animou a fazer sua prece e em voz alta foi falando:
Jesus, sou eu. Olha, a minha neta está muito doente. Eu gostaria que você fosse lá para curá-la. Jesus, você pega uma caneta que eu vou dizer onde fica.
Depois de uns segundos, continuou:
Já está com a caneta, Jesus? Então, você vai seguindo em frente e quando passar o rio com a ponte, você entra na segunda estradinha de terra. Não vai errar, tá?
Os que estavam por perto acharam interessante aquele monólogo. Alguns, no entanto, mal podiam conter o riso. Mas a senhora, de olhos fechados, continuou:
Andando mais uns vinte minutinhos, tem uma vendinha. Pega a rua da mangueira que o meu barraquinho é o último da rua. Pode entrar que não tem cachorro.
Olha, Jesus, a porta está trancada, mas a chave fica embaixo do tapetinho vermelho, na entrada. O senhor pega a chave, entra e cura a minha netinha. Mas, olha só, Jesus, por favor não esqueça de colocar a chave de novo embaixo do tapetinho vermelho, senão eu não consigo entrar.
Terminada a oração, ela se levantou e foi para casa. Ao entrar, sua netinha veio correndo recebê-la.
Minha neta, você está de pé? Como é possível?
E a menina respondeu:
Vovó, eu ouvi um barulho na porta e pensei que fosse a senhora voltando. Aí, entrou em meu quarto um homem alto, com um vestido branco, e mandou que eu me levantasse. E eu me levantei.
Depois, Ele sorriu, beijou minha testa e disse que tinha que ir embora, mas pediu que eu avisasse a senhora que Ele iria deixar a chave embaixo do tapetinho vermelho.
* * *
A verdadeira oração não necessita de palavras difíceis ou muito buriladas. É a manifestação espontânea do coração que se abre num colóquio íntimo, pedindo, agradecendo, louvando, reconhecendo a própria pequenez e a grande necessidade.
A força de uma prece não reside apenas na coordenação das palavras proferidas, mas na intenção que o pensamento exterioriza, para a fonte de recursos a que se dirige.
Por isso mesmo, o Mestre de Nazaré ensinou: Buscai e achareis. Batei e abrir-se-vos-á.

com base na história O tapetinho vermelho, de Célia Vieira, 
do jornal O espírita fluminense, de out/nov/2001 
e do texto O poder da prece, de Mauro Paiva Fonseca, 
da revista Reformador, de nov/2001, ed. Feb.


quarta-feira, 30 de março de 2016

Eterno convite

Quando Jesus falava aos seus discípulos, ele falava para a Humanidade de todas as épocas e Suas palavras soam até hoje como uma voz de esperança em nossos corações.
Há mais de dois mil anos, Ele fez um convite muito especial, que permanece ecoando através dos tempos.
No Evangelho de Mateus está registrado o doce chamado que Ele nos faz: Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo.
Analisemos esse convite do Cristo.
Quando Ele diz Vinde a mim, está convidando todos nós, todas as criaturas humanas e nos deixando a certeza de que podemos ir até Ele.
Ao se referir aos aflitos e sobrecarregados, Ele se reporta a nós, os sofridos, os que choram, os preocupados dos dias atuais, os depressivos, os ansiosos e os que padecem tantas outras aflições.
Na fala Eu vos aliviarei, Ele traz a promessa do alívio de nossas dores, que se dará a partir do momento em que nos sintonizarmos no padrão do Cristo.
Ele oferta o alívio, mas não a cura, porque a cura real depende de cada um de nós.
E ela se iniciará quando tivermos consciência das leis Divinas e passarmos a vivenciá-las.
Essa vivência se dará quando, após análise e reflexão das tendências e tentações que existem dentro de nós, passarmos à ação renovadora.
Quando Ele diz Tomai sobre vós o meu jugo, Cristo vem nos contar da Sua autoridade, baseada no suave poder do amor. Vem ensinar para a Humanidade sobre esse nobre sentimento, do qual Ele deu mostras durante toda Sua vida.
Ao recomendar aos discípulos que se amassem como Ele os amou, falou para a Humanidade daquela época e dos tempos que viriam, sendo até hoje o nosso maior exemplo.
E Ele se coloca como referencial quando diz Aprendei comigo que sou brando e humilde de coração. Mostra-nos virtudes que precisamos trabalhar em nosso mundo íntimo.
* * *
Todos nós temos fardos a carregar, mas Jesus não deixa dúvidas de que, ao Seu lado, eles se tornarão leves.
E assim acharemos repouso para as nossas almas.
Sabemos como o corpo repousa, mas como a alma pode repousar?
Isso se dará quando tivermos zerado nossas dívidas perante a contabilidade Divina, saldando nossos compromissos.
Nesse momento, nossa consciência estará tranquila e em paz e poderemos caminhar com mais liberdade porque os obstáculos do passado já estarão superados.
Com esse convite especial, Jesus traz o porvir para nós, ofertando-nos o caminho para a felicidade.
Não hesitemos em atender a esse glorioso chamado e busquemos estar cada dia mais conscientes das mudanças que precisamos promover em nós mesmos.
Lembremos que o jugo do Cristo é a observância da lei Divina. O jugo é leve e a lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade.
Pensemos nisso.

item 2, do cap. VI do livro O evangelho
segundo o espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb.
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terça-feira, 29 de março de 2016

O Brasil é do bem

Uma reportagem publicada em revista de grande circulação nacional, chama a atenção pelas primeiras linhas.
Diz assim: O Brasil é do bem. Em dois anos o número de pessoas que dedica parte do tempo livre a trabalhos voluntários mais do que dobrou.
Continua dizendo: Este batalhão de gente disposta a trocar horas de lazer pelo auxílio ao próximo não para de crescer! Estima-se que hoje, dois, em cada dez brasileiros, são voluntários.
Raramente lemos notícias boas assim em nossos jornais e revistas.
Infelizmente essas notícias não vendem tão bem quanto as desgraças e as fofocas. Assim, acabamos ficando sem saber de dados importantes como esse.
Numa primeira leitura parece uma manchete de um jornal do futuro, de um futuro distante, quando nosso país e nosso mundo estivessem melhores.
Porém, descobrimos, com alegria, que isso está acontecendo hoje. As mudanças já estão aí, operando-se nos corações humanos, e fazendo da Terra um lugar melhor para se viver.
Certamente que temos diversos problemas ainda, mas por vezes só falamos deles, só lemos a respeito de desgraças e mais desgraças, e isso vai nos deixando desanimados.
Há necessidade de saber também de tudo que vai bem, tudo que está melhor, tudo que se transforma positivamente.
De nosso interesse pelo bem, pelas boas notícias, nascerá igualmente o interesse das mídias em publicarem e divulgarem tais dados.
Enquanto apenas nos interessarmos em saber dos detalhes mórbidos desse ou daquele crime, desse ou daquele escândalo, é o que iremos ler e reler nas notícias.
A intenção não é a de nos mantermos ignorantes do que acontece, ou da realidade, como alguns poderiam argumentar, mas apenas a de equilibrar um pouco as coisas.
Toda essa enxurrada de notícias horripilantes e tristes tem gerado um efeito colateral nas almas humanas: o de deixá-las amargas, cabisbaixas, depressivas.
Ao mesmo tempo em que acontecem muitas coisas terríveis, muitas maravilhas outras estão aparecendo no mundo.
Noticiamos mortes violentas, assassinatos, mas, por vezes, esquecemos de noticiar as vidas salvas, as vidas que nascem exuberantes, as vidas que se renovam.
Noticiamos roubos, desvios de dinheiro e golpes. Porém, esquecemos de noticiar os gestos de filantropia que se multiplicam pelo mundo, as doações anônimas que promovem o bem-estar humano.
Divulgamos as separações conjugais, o casa-descasa das personalidades famosas, mas deixamos de lado as histórias de amor sincero, as uniões duradouras, o verdadeiro amor de família.
E tudo isso vai nos dando uma ideia falsa de que o bem não existe, e de que o mundo está cada vez pior.
O bem precisa aparecer! O bem precisa fazer alarde e quebrar esse vício humano de cultivar a desgraça.
Que possamos dar um basta ao sensacionalismo tolo, à fábrica de notícias ruins da televisão.
Sejamos os que fazem o bem, e também os que desejam saber do bem, e não apenas do mal que ainda existe como ferida exposta a ser curada.
* * *


Notícia de última hora:
O mundo está melhor hoje do que estava ontem.
As pessoas estão mais dispostas ao bem, e por isso propõem-se a se transformar interiormente, dando um basta a essa onda de infelicidade e desentendimento que assusta o mundo.
O mundo está melhor... pois você está melhor. 



segunda-feira, 28 de março de 2016

A empatia comunica o amor

Todos nós, pais, amamos nossos filhos e queremos o melhor do mundo para eles.
Temos essa certeza dentro de nós e só Deus sabe o que somos capazes de fazer, de passar, de suportar, por amor aos nossos pequenos.
Mas será que estamos comunicando esse amor de forma correta? Ou melhor: será que nossos filhos sentem que os amamos tanto assim?
Ah, mas eu digo sempre!
Entretanto, será essa forma, puramente verbal, suficiente e a única existente?
Vamos descobrir que não, e mais, que podemos amar nossos filhos, sim, mas que podemos não estar comunicando esse sentir de forma adequada a eles.
São muitas as formas de demonstrá-lo, e uma delas, de suprema importância, é a empatia. A empatia comunica o amor.
A empatia estimula a proximidade terna, a intimidade e elimina a solidão.
Assim como a empatia aproxima seu filho de você, também aproxima você dele. Quando nos colocamos no lugar de outra pessoa, quando realmente conseguimos captar o seu ponto de vista, repentinamente acontece algo: o comportamento dessa pessoa passa a ter sentido.
Vejamos um exemplo simples, mas significativo:
Karen, uma menina de três anos, fica com medo do barulho supersônico de um avião e corre chorando para a mãe.
Na reação típica, a mãe diz: Ora, minha filha, é apenas um barulho supersônico feito por um avião. Você não precisa ter medo.
Essa tentativa de tranquilizar a criança diz, em essência: Não tenha esse sentimento de medo. Não há necessidade de ter medo do barulho de aviões.
Evidentemente, a mãe tenta acabar com o medo por meio de uma explicação lógica. Mas os barulhos muito fortes são realmente assustadores para crianças pequenas, qualquer que seja a sua causa.
A lógica acaba com a empatia, nesse caso. E Karen não se sente compreendida. As explicações são mais úteis depois dese ter lidado com os sentimentos.
No momento dos sentimentos fortes, a primeira necessidade é de compreensão. As explicações podem ficar para depois.
Na reação empática, temos: a mãe de Karen abraça a filha e fala: Meu Deus, foi um barulhão. É terrível!
Nesse breve momento, a mãe de Karen entra no mundo atemorizado da filha e mostra que a compreende.
A resposta empática diz a Karen: Mamãe está comigo. Ela sabe como me sinto.


Quando a criança sabe que seu medo é compreendido, ela é mais capaz de ouvir a razão lógica para a causa do medo.
A empatia é ouvir com o coração e não com a cabeça. Se a resposta empática é dita em tom frio, neutro, a criança não se sente compreendida.
Possivelmente, já devemos ter relatado uma experiência a outra pessoa, que nos respondeu assim: É... deve ter sido difícil para você...
Nós sabemos quando esse dizer é verdadeiro ou apenas pro forma. Quando ele é verdadeiro, nós nos sentimos compreendidos e não há nada melhor do que se sentir assim, não é?
Precisamos, como pais, mergulhar com mais frequência, no mundo dos sentimentos de nossos filhos. Só assim eles se sentirão amados. Só assim eles irão se sentir amparados.
Isso é ser companheiro de uma vida! Isso é amar! a empatia comunica o amor.

do livro Autoestima de seu filho,de Dorothy Corkille Briggs, ed. Martins Fontes.


domingo, 27 de março de 2016

Obrigado por mais esse dia

"Senhor, obrigado por mais este dia.
Obrigado pelos pequenos e grandes dons que tua bondade colocou em nosso caminho a cada instante desta jornada.
Obrigado pela luz, pelo alimento, pela água, pelo trabalho, por este teto.
Obrigado pela beleza de tuas criaturas, pelo milagre da vida, pela inocência das crianças, pelo gesto amigo, pelo amor.
Obrigado pela surpresa de tua presença em cada ser.
Obrigado por teu amor que nos sustenta e protege, pelo teu perdão que nos faz crescer.
Obrigado pela alegria de termos sido úteis, ter servido à humanidade, aos que nos cercam.
Que amanhã sejamos melhores.
Queremos, antes de adormecer, perdoar e abençoar a quem nos magoou neste dia.
Abençoa, Senhor, o nosso descanso, os nossos corpos, os nossos familiares e amigos.
Abençoa, desde já, nosso amanhã.
Obrigado! Boa-noite, Senhor!



quinta-feira, 24 de março de 2016

As cores das palavras

As crianças possuem o dom especial de colocar cores em tudo que fazem. Não é raro que elas perguntem aos adultos de que cor são as palavras papai, mamãe.
E se os adultos não sabem responder, elas acabam por fazê-lo, concedendo a cor de sua preferência a uma e outra.
E de que cor serão os sentimentos? Quando amamos, quando entristecemos, de que cor se revestirá a nossa alma?
É possível que se a palavra tivesse cores, o amor teria a tonalidade do crepúsculo, quando o rosa e o violeta se misturam.
Talvez a tonalidade variasse mais para o rosa ou mais para o violeta, de acordo com a intensidade do amor.
Se as palavras sofressem o impacto do colorido da vida, poderíamos perceber, no olhar de uma mãe sofrida, a simplicidade da cor da violeta que se oculta nos jardins.
Se as palavras pudessem estar envolvidas em cores, poderíamos ver, sob o manto azul da fantasia, o sorriso da excelsa mãe de Jesus debruçada na manjedoura, observando o tesouro que acabara de dar à luz.
Se as dores profundas das ingratidões, nos corações dos homens, se envolvessem em cores, poderíamos ver cobertas de cinza as palavras de amargura lançadas ao infinito.
Se coloridas fossem as lágrimas que escorrem pela face dos que sentem a saudade dos que partiram para a verdadeira vida, poderíamos vê-las como lilás, exatamente como, por vezes, se veste o céu ao cair da tarde.
E o beijo do primeiro amor sincero e verdadeiro, suave e doce na adolescência, seria, com certeza, verde-água.
Se o pintor desejasse retratar o sentimento do balbuciar de uma criança, certamente rosa seria a cor que escolheria.
E o sentir de duas almas que se reencontram, nas vielas do mundo, se reconhecem e entrelaçando as mãos, decidem ficar juntas para todos os embates do cotidiano, seria tão grande, tão especial que retrataria um bailado de diversas cores.
Mas, quando ardessem de paixão os corações de um homem e uma mulher, os seus anseios se cobririam da cor vermelha. Da mesma cor das pétalas das rosas do jardim.
Se dos lábios de quem ensina jorrasse sempre o bem e a verdade, o belo e o bom, seria de amarelo-ouro a luz que iluminaria o discípulo atento e disciplinado.
E quando o homem se recolhesse à sua intimidade para orar ao Criador, é possível que na cor azul mais pura se traduzisse a sua mensagem, atravessando os céus, até alcançar o seu destino.
Finalmente, se os corações dos homens se envolvessem de paz, certamente que o nosso planeta não seria azul. Estaria, sim, envolvido em uma imensa nuvem de brancura, e a Humanidade inteira se beneficiaria com as partículas de luzes que a atingiriam, todos os dias, com delicadeza e constância.
* * *
Quando falarmos, pensemos nas cores das nossas palavras. Como cada um de nós tem a sua preferência pelas cores mais vivas ou mais delicadas, mais fortes ou empalidecidas, pensemos no colorido que desejamos ofertar ao mundo.
Pensemos antes de falar. Falemos somente o que edifica, o que faz bem, o que engrandece.
Iluminemos a palavra para expressar a crítica. Ensinemos com brandura. Não gritemos nunca. O grito, que fere os ouvidos, deve ter a cor da destruição dos sentimentos alheios.
Falemos, construindo, e ofereçamos aos demais as cores que edificarão arco-íris nas suas vidas.

A cromática sutileza da palavra, de Leda Jesuíno, 
da revista Presença Espírita, de nov/dez/2001, ed. LEAL.


quarta-feira, 23 de março de 2016

Uma Oração para os Vivos

Que honremos o fato de ter nascido, e que saibamos desde cedo que não basta rezar um Pai- Nosso para quitar as falhas que cometemos diariamente. Essa é uma forma preguiçosa de ser bom. O sagrado está na nossa essência, e se manifesta em nossos atos de boa-fé e generosidade, frutos de uma percepção profunda do universo, e não de ocasião. Se não estamos focados no bem, nossa aclamada religiosidade perde o sentido.

Que se perceba que quando estamos dançando, festejando, namorando, brindando, abraçando, sorrindo e fazendo graça, estamos homenageando a vida, e não a maculando. Que sejam muitos esses momentos de comemoração e alegria compartilhados, pois atraem a melhor das energias. Sentir-se alegre não deveria causar desconfiança, o espírito leve só enriquece o ser humano, pois é condição primordial para fazer feliz a quem nos rodeia.

Que estejamos sempre abertos, se não escancaradamente, ao menos de forma a possibilitar uma entrada de luz pelas frestas. Que nunca estejamos lacrados para receber o que a vida traz. Novidade não é sinônimo de invasão, deturpação ou violência. Acreditemos que o novo é elemento de reflexão: merece ser avaliado sem preconceito ou censura prévia.

Que tenhamos com a morte uma relação amistosa, já que ela não é apenas portadora de más notícias. Ela também ensina que não vale a pena se desgastar com pequenas coisas, pois no período de mais alguns anos estaremos todos com o destino sacramentado, invariavelmente. Perder tempo com picuinhas é só isso, perder tempo.

Que valorizemos nossos amigos mais íntimos, as verdadeiras relações pra sempre.

Que sejamos bem-humorados, porque o humor revela consciência da nossa insignificância – os que não sabem brincar se consideram superiores, porém não conquistam o respeito alheio que tanto almejam. Ria e engrandeça-se.

Que o mar esteja sempre azul, que o céu seja farto de estrelas, que o vinho nunca seja proibido, que o amor seja respeitado em todas as suas formas, que nossos sentimentos não sejam em vão, que saibamos apreciar o belo, que percebamos o ridículo das ideias estanques e inflexíveis, que leiamos muitos livros, que escutemos muita música, que amemos de corpo e alma, que sejamos mais práticos do que teóricos, mais fáceis do que difíceis, mais saudáveis do que neurastênicos, e que não tenhamos tanto medo da palavra felicidade, que designa apenas o conforto de estar onde se está, de ser o que se é e de não ter medo, já que o medo infecciona a mente.

Que nosso Deus, seja qual for, não nos condene, não nos exija penitências, seja um amigo para todas as horas, sem subtrair nossa inteligência, prazer e entrega às emoções que nos fazem sentir plenos.

A vida é um presente, e desfrutá-la com leveza, inteligência e tolerância é a melhor forma de agradecer – aliás, a única.

Martha Medeiros

terça-feira, 22 de março de 2016

Quando me Amei de Verdade

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima. Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades. Hoje sei que isso é...Autenticidade. Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de... Amadurecimento. Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Hoje sei que o nome disso é... Respeito. Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama... Amor-próprio. Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é... Simplicidade. Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes. Hoje descobri a... Humildade. Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude. Não devemos ter medo dos confrontos... Até os planetas se chocam e do caos nascem as Estrelas. Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada. Tudo isso é... Saber viver!!!
Kim McMillen

segunda-feira, 21 de março de 2016

O átomo e o preconceito




Conta-se que um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, uma escada no centro e, sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão.
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros batiam nele.
Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas.
Então os cientistas substituíram um dos cinco macacos.
A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram.
Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada.
Um segundo macaco foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato.
Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato.
Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas ficaram, então, com cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas.
Se caso fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui!

É dessa forma que vemos a Humanidade agindo, no que diz respeito aos preconceitos.
Herdamos valores do passado sem questioná-los, sem pensar sobre sua validade, sobre seu conteúdo.
O grande Albert Einstein, certa feita disse: Triste época esta, em que é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.
Em seus pensamentos, com toda certeza, fulgurava essa dificuldade que tem o homem de se libertar de sua ignorância, de agir de acordo com a racionalidade, e não conforme as convenções descabidas.
Por isso, conceituamos antecipadamente muitas coisas, como uma raça, uma religião, uma profissão, uma opção de vida, uma pessoa.
Escondemo-nos na ideia de que sempre foi assim, escapando de ter que pensar, de ter que mudar.
Nesse momento, chegamos bem próximos das atitudes dos animais, que agem apenas por instinto, e se encontram na primitividade da evolução terrena.
O homem moderno precisa urgentemente rever seus valores.
O homem do novo século necessita derrubar antigos conceitos e abrir sua mente para as verdades novas que lhe chegam.
Juntamente com a importantíssima evolução do intelecto, que nos possibilitou dividir o átomo, precisamos cuidar também do crescimento ético, do desenvolvimento espiritual que nos fará, finalmente, livres dos preconceitos, que até hoje na História do Mundo, só trouxeram a espada, a divisão, o sofrimento. 


Quantas das guerras modernas ainda são resultado de preconceitos antigos!
Quantos sentimentos de ódio por outras raças, por outras crenças, responsabilizando milhões, pelos erros passados de alguns poucos!
Quantos dias, anos, décadas, séculos, ainda faltam para compreender que somos todos irmãos, que temos todos o mesmo objetivo, e que não precisamos competir, e sim buscar a união para sermos felizes?
Pensemos nisso.

sábado, 19 de março de 2016

Depois de cada filme

Uma sala de cinema, depois de cada filme, pode nos trazer reflexões interessantes.
O comportamento das pessoas apresenta algo de curioso.
Os créditos começam a surgir na tela e as luzes voltam a acender lentamente, avisando a todos que aquele sonho projetado no grande painel branco terminou.
Cada um que está ali, então, volta ao seu mundo, à sua dita realidade.
Saem apressados, atrasados, levados pela correnteza humana, quase que na velocidade da luz – da luz que volta a clarear a sala de projeção.
Porém existem alguns, apenas alguns, que permanecem um pouco mais.
Sentados, imóveis, de olhar distante, parecem ainda respirar naquele mundo criado à sua frente há poucos minutos.
Como se quisessem suavizar a transição entre uma realidade e outra. Ficam ali, como se desejassem reter tudo aquilo um pouco mais... apenas um pouco mais.
Não querem permitir que a vida lá fora perca a lembrança do que acabaram de ver.
Esses podem ter suas vidas modificadas... com um simples filme.
O que esta história diz à minha vida?
Que características neste ou naquele personagem, tem a ver comigo, com meus sonhos, com minhas dificuldades?
O que posso aprender com estas vidas, com este mundo, por vezes tão diferente do meu?
São tantos os questionamentos que eles podem estar fazendo naquele momento...
Indagações que aqueles que saíram desassossegados em disparada, possivelmente não terão.
Para esses foi apenas entretenimento. Não conseguiram penetrar na esfera da arte, da beleza.
Sábios. Esses que permanecem agem com sabedoria. Buscam aprender tudo que a vida tem a lhes oferecer, e ela, por ser tão maravilhosa e perfeita, oferece lições a todo instante.
Mas que diferença pode fazer, ficar ali um pouco mais, pensando? – Alguém poderia questionar.
A diferença está na importância de parar para analisar todos os eventos de nossos dias.
No hábito da reflexão, extraindo dos acontecimentos sempre um saber a mais.
Será que estamos sabendo parar um pouco para pensar em cada evento de nosso viver?
Será que na maioria das vezes não agimos como os espectadores apressados, que não têm tempo para refletir?
Será que não estamos saindo muito cedo de nossas salas de projeção diárias?
Imagine ficar um pouco mais na cadeira, pensando naquele entardecer passado ao lado de alguém que você ama...
Imagine ficar um pouco mais na cadeira, curtindo aquele nascer de sol especial de uma manhã de trabalho...
Imagine ficar um pouco mais, acompanhando as peripécias de seu filho, aprendendo a andar, a falar, a abraçar...
Imagine permanecer, por alguns segundos que seja, lembrando das palavras de afeto, das risadas, trocadas com algum amigo numa noite qualquer...
Imagine a vida sem a pressa que lhe atribuímos, e com a qual acabamos por nos acostumar...
Experimente lembrar disso tudo na próxima vez que você estiver numa sala de cinema.
Procure as pessoas que ficam um pouco mais, e quem sabe, com alegria verá que você é uma delas.
Bem, na verdade você poderá começar a pensar sobre isso agora mesmo, depois que estas palavras chegarem ao fim, e escolher o tipo de pessoa que é: aquela que sairá apressada, mudará de estação, esquecerá de tudo; ou aquela que irá ficar com estes dizeres um pouco mais, pensando, refletindo.
Pense nisso.


do livro O que as águas não refletem, de Andrey Cechelero.
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Quando o sofrimento nos fere...

Existem pessoas que, quando violentadas pelo sofrimento, se tornam revoltadas, agredindo aos que vivem ao seu redor, como a se desforrar da dor que as esmaga.
Outras existem que se tornam amargas, alheias ao entorno, não se importando com nada mais senão sua própria dor. Para essas o mundo é cinza, sombrio, nada apresentando de bom.
A vida perdeu o brilho e vivem a rememorar os padecimentos suportados, chegando, por vezes, a se tornarem pessoas de difícil convivência, pela constância das lamentações.
Mas, outras têm o condão de transformar as experiências dolorosas em ações altruístas e humanitárias.
Recordamos da atriz belga Audrey Hepburn. Filha de um banqueiro britânico irlandês e de uma baronesa holandesa, descendente de reis ingleses e franceses, tinha nobreza no sangue.
Foi a terceira maior lenda feminina do cinema, a quinta artista e a terceira mulher a ganhar as quatro principais premiações do entretenimento norteamericano, o EGOT, ou seja, o prêmio Emmy, o Grammy, o Oscar e o Tony.
Quando tinha apenas nove anos, seus pais se divorciaram. Para mantê-la afastada das brigas familiares, sua mãe a enviou para um internato na Inglaterra.
Audrey se apaixonou pela dança e estudou balé. Contudo, com o estourar da Segunda Guerra Mundial, tendo a Inglaterra declarado guerra à Alemanha, tudo se modificaria na sua vida.
Sua mãe, temendo bombardeios na Inglaterra, levou Audrey, sob protestos, para a Holanda. No entanto, com a invasão nazista, a vida da família foi tomada por uma série de provações.
Para sobreviver, muitas vezes, Audrey precisou se alimentar com folhas de tulipa.
Se ela sofria, e outras tantas pessoas sofriam, ela precisava fazer algo. Envolveu-se com a Resistência e viu muitos dos seus parentes serem mortos em sua frente.
Para angariar fundos, ela participou de espetáculos clandestinos, aproveitando para levar mensagens em suas sapatilhas.
Com o final da guerra, a organização que daria origem, posteriormente, à UNICEF, chegou com comida e suprimentos, salvando a vida de Audrey.
Ela jamais esqueceu isso e, em 1987, deu início ao mais importante trabalho de sua vida: o de embaixatriz da UNICEF. Essa tarefa foi extremamente facilitada, graças ao domínio de cinco idiomas: francês, italiano, inglês, neerlandês e espanhol.
Ela passou seus últimos anos em incansáveis missões pela UNICEF, visitando países, dando palestras e promovendo concertos em benefício de causas humanitárias.
Dizia ter uma dívida para com a UNICEF, por ter tido salva a sua vida. E, dessa forma, tentava resgatá-la.
* * *
Sim, as dores podem ser as mesmas. A maneira pela qual cada um as recebe difere e isso confere felicidade ou infelicidade.
Alguns se engrandecem na dor, outros se apequenam e se infelicitam.
A decisão é pessoal. Aprendamos com os bons e salutares exemplos.
Ninguém vive sem sofrer. Façamos das nossas agruras motivos de engrandecimento próprio.



sexta-feira, 18 de março de 2016

O que temos


Na visão, tantas vezes pessimista, do homem, ele se esquece de que tem multiplicadas razões para ser infinitamente grato a Deus.
Foi certamente reflexionando a respeito das tantas bênçãos de que dispõe, que alguém elaborou uma prece, mais ou menos nos seguintes termos:
Eu agradeço a Deus... Pelos impostos que eu pago, porque isso significa que tenho um emprego... Muitos desejariam estar no meu lugar e não se importariam nem um pouco em ter tal desconto em seu salário, porque teriam um salário...
Agradeço a Deus pela confusão que eu tenho que limpar após uma festa, porque isso significa que estive rodeado de amigos que, mesmo num mundo onde tantos afirmam não ter tempo, eles têm tempo para me visitar no meu aniversário, na minha formatura, na comemoração de um sucesso na minha carreira ou simplesmente em um dia comum qualquer.
Agradeço pela minha sombra que me segue, porque isso significa que ando ao sol...
Pelas paredes que precisam ser pintadas, pela lâmpada que precisa ser trocada, pela torneira que vaza, pelo ladrilho quebrado, porque isso significa que ainda tenho minha moradia...
Por todas as críticas que faço às coisas que não me satisfazem, porque isso significa que tenho possibilidade de análise e discernimento, tanto quanto vivo em um país onde gozo da liberdade de expressão...
Pelo único lugar para estacionar que encontro bem ao fundo do estacionamento, porque isso significa que, além de ter a felicidade de poder andar, tenho a ventura de ter um meio de transporte...
Pela música que toca desafinadamente atrás de mim, porque isso significa que posso ouvir...
Pelo cansaço e os músculos doloridos que eu sinto ao final do dia, porque isso significa que tenho saúde para trabalhar...
Pelo despertador que toca às primeiras horas da manhã, quando ainda me encontro sonolento e gostaria de permanecer dormindo mais um pouco, porque isso quer dizer que mereci a bênção de acordar no corpo outra vez.
Finalmente, por todos os e-mails que recebo diariamente, o que significa que tenho amigos que pensam em mim, mesmo que por poucos minutos, diante de uma tela de computador...
Por fim... Obrigado meu Deus pela minha vida cheia de problemas, porque eles me farão ter certeza de que eu sou capaz de resolver cada um e, da melhor maneira.
* * *

Diante do prato de comida que tenhamos à mesa, não reclamemos da sua singeleza ou da reprise de todos os dias. Lembremos que, bem próximo de nós, alguém desejaria intensamente ter um pedaço de pão para saciar a fome.
Diante da ausência do refrigerante ou suco de nossa predileção no restaurante em que nos encontremos, não reclamemos. Pensemos em quantos, no mundo, morrem por ausência de um pouco de água que lhes mantenha a vida.
Diante do congestionamento de trânsito que nos detenha na rua ou na rodovia, não reclamemos. Pensemos em quantos gostariam de deter o passo um pouco, para descansar, mas não o podem fazer, porque necessitam vencer grandes distâncias a pé, para chegar ao posto de socorro mais próximo.
Enfim, diante da ausência de qualquer coisa que desejemos, pensemos, antes de reclamar, em tudo de que já dispomos e que nos beneficia com conforto, alegrias e sucessos.
E, em nome da caridade, recordemo-nos de orar por todos aqueles que não desfrutam dessas mesmas oportunidades.



quinta-feira, 10 de março de 2016

Não Estrague o seu dia

Você já experimentou, alguma vez, aquele amanhecer sombrio, em que tudo lhe parece amargo?
Esses dias aparentemente têm os mesmos aspectos para todos nós, mas são vividos de maneira diferente por cada indivíduo.
Alguns ficam tristes e quase calados. Buscam isolar-se para evitar qualquer contato com alguém que lhes faça perguntas sobre o que está acontecendo, porque está assim, etc.
Outros deixam o mau humor dirigir seus passos e, em poucos minutos, azedam todo o ambiente em que se encontram. Distribuem gestos bruscos, falam com irritação, respondem com azedume, culpam os outros por tudo de errado que acontece.
E a resposta para comportamentos desse tipo logo se faz sentir no organismo, em forma de azia, enxaqueca, dores musculares, entre outros males.
E o pior de tudo é que nem sabemos o porquê de tanta irritação. Não paramos um pouco para meditar sobre a situação em que nos encontramos, nem para mudar o curso dos acontecimentos.
De maneira irrefletida, estragamos o nosso dia movidos por um estado d´alma que nos toma de assalto e no qual nos deixamos mergulhar, sem refletir.
Passados esses momentos amargos, fica uma desagradável sensação de mal-estar, de indisposição, de sentimentos feridos, de relacionamento comprometido.
Assim, se você sentir que está diante de uma manhã sombria, de um momento amargo, vale a pena tomar medidas urgentes para não se deixar cair nas armadilhas.
Se ainda está em casa, faça uma prece antes de sair.
Se estiver no trabalho, busque um local que lhe permita ficar só por um instante, respire fundo e eleve o pensamento a Deus, rogando forças e discernimento para não se deixar levar por circunstâncias desagradáveis.
Lembre-se, sempre, que todos temos momentos difíceis, e que só depende de nós complicá-los ainda mais, ou sair deles com sabedoria e bom senso.
Lembre-se, ainda que, por mais difícil que esteja a situação, ela será tragada pelas horas e substituída por momentos mais leves e mais felizes.
Por essa razão, nunca valerá a pena estragar o seu dia.
* * *
Não estrague o seu dia.
A sua irritação não solucionará problema algum.
As suas contrariedades não alteram a natureza das coisas.
Os seus desapontamentos não fazem o trabalho que só o tempo conseguirá realizar.
O seu mau humor não modifica a vida.
A sua dor não impedirá que o sol brilhe amanhã sobre os bons e os maus.
A sua tristeza não iluminará os caminhos.
O seu desânimo não edificará a ninguém.
As suas lágrimas não substituem o suor que você deve verter em benefício da sua própria felicidade.
As suas reclamações, ainda mesmo afetivas, jamais acrescentarão nos outros um só grama de simpatia por você.
Não estrague o seu dia.
Aprenda, com a Sabedoria Divina, a desculpar infinitamente, construindo e reconstruindo sempre para o infinito Bem.



terça-feira, 8 de março de 2016

Tolerância é caminho de paz

Como anda nossa tolerância?
Temos dificuldade em aceitar quem pense diferente de nós?
Temos dificuldade para suportar quem saiba menos, ou quem pareça ser menos inteligente?
Precisamos falar sobre essa virtude que é o mínimo necessário para uma convivência saudável, sem tantos atritos e desencontros.
Tolerar é aceitar o que poderia ser condenado, é deixar fazer o que se poderia impedir ou combater.
Portanto, é renunciar a uma parte de seu poder, de sua força, de sua cólera… Assim, toleramos os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário.
Mas isso só é virtuoso se assumirmos, como se diz, se superarmos nosso próprio interesse, nosso próprio sofrimento, nossa própria impaciência.
A tolerância tem a ver com a humildade, ou antes, dela decorre.
De acordo com Voltaire: “Devemos tolerar-nos mutuamente, porque somos todos fracos, inconsequentes, sujeitos à mutabilidade, ao erro.”
Humildade e misericórdia andam juntas, e esse conjunto, no que se refere ao pensamento, conduz à tolerância.
“Tolerar não é, evidentemente, um ideal”, já notava Abauzit,“não é um máximo, é um mínimo.”
Se a palavra tolerância se impôs, entretanto, é sem dúvida porque de amor ou de respeito todos se sentem muito pouco capazes, em se tratando de seus adversários. Ora, é em relação a eles, primeiramente, que a tolerância age…
“Esperando o belo dia em que a tolerância se incline ao amor”, conclui Jankélévitch, diremos que a tolerância, a prosaica tolerância é aquilo que melhor podemos fazer!
Tolerar – por menos exaltante que seja esta palavra – é, pois, uma solução passável; à espera de melhor, isto é, à espera de que os homens possam se amar, ou simplesmente se conhecer e se compreender, demo-nos por felizes com que eles comecem a se suportar.
É pequena virtude, mas indispensável. É apenas um começo, mas o é.”
* * *
Tolerância é caminho de paz.
Não julguemos esse ou aquele companheiro ignorante ou desinformado, porquanto, se aprendemos a ouvir, já sabemos compreender.
Diante de criaturas que nos enderecem qualquer agressão, conversemos com naturalidade, sem palavras de revide que possam desapontar o interlocutor.
Perante qualquer ofensa, não percamos o sorriso fraternal e articulemos alguma frase, capaz de devolver o ofensor à tranquilidade.
Nos empecilhos da existência, toleremos os obstáculos sem rebeldia e eles se farão facilmente removíveis.
No serviço profissional, suportemos com paciência o colega difícil, e, aos poucos, em nos observando a calma e a prudência, ele mesmo transformará para melhor as próprias disposições.
Em família, toleremos os parentes menos simpáticos e, com os nossos exemplos de abnegação, conquistaremos de todos eles a bênção da simpatia.
Trabalhemos em nós essa virtude, a partir de agora. Pensemos nisso.
do livro Plantão de paz, pelo Espírito Emmanuel, 
psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. IDE.



segunda-feira, 7 de março de 2016

A gente vai aprendendo

A gente vai aprendendo que o caminho é mais importante do que o chegar, e que é necessário saber contemplar a paisagem pra escutar o que ela te comunica. A gente vai aprendendo que nem tudo que chega fica, mas que se veio, de alguma forma foi pra nos construir um pouco mais, ainda que na hora nos destrua. A gente vai percebendo, que muitas vezes, é do outro lado da rua que está algo que buscamos tanto, e que, a travessia se faz necessária, apesar de todos os riscos, de todos os prantos. A gente aprende, que um desenho vai muito além do traço e da cor, um desenho são linhas que o coração faz pra formar uma obra final. E aprendi, que o desenho da vida nunca fica igual ao longo dos anos, coisas se apagam, outras se rasuram, outras se acrescentam. Fui aprendendo que pra todo sentimento existe prazo de validade e que só a sabedoria, de mãos dadas com a idade, é capaz de estica-los mais ou menos tempo dentro de nós. Aprendi a desaprender também, pois fui percebendo que ninguém pode chegar em mim além do que eu mesma permita. Assim, aprendi a esperar menos dos outros, pois vejo como tudo é frágil demais ou sensível de menos. Assim, aprendi a não esperar de alguém que não te alcança no coração, que te ultrapasse com atitudes, pois tudo, exatamente tudo que me proponho a me jogar, tem a altitude que eu escolhi ter. Aprendi "ComSequências" de erros, que se acerta ou se aceita diariamente quem tem como opção simplesmente SER.

Lilian Vereza



domingo, 6 de março de 2016

Mudanças

Quando eu era jovem e livre, sonhava em mudar o mundo.
Na maturidade, descobri que o mundo não mudaria.
Então resolvi transformar meus pais.
Depois de algum esforço, terminei por entender que isso também era impossível.
No final de meus anos procurei mudar minha família, mas eles continuaram a ser como eram.
Agora, no leito de morte, descubro que minha missão teria sido mudar a mim mesmo.
Se tivesse feito isso, eu teria sido capaz de transformar os que me cercam.
Então, essa mudança afetaria meus pais e, quem sabe, o mundo inteiro.

* * *
Esses dizeres foram encontrados no túmulo de um bispo anglicano do século XII, na abadia de Westminster e nos conduzem à meditação sobre como nos portamos na vida.
Somos daqueles que reclamamos que o mundo está ruim? Que não existem pessoas honestas e corretas?
Ou somos daqueles que estamos exemplificando a honestidade?
Quando alguma coisa errada é descoberta na empresa em que trabalhamos, temos a coragem de admitir que fomos nós o culpado pelo erro, ou preferimos deixar tudo por isso mesmo e que outro acabe por levar a culpa?
Se o caixa do supermercado nos dá troco a mais, temos a honradez de devolver, dizendo que ele se equivocou, ou embolsamos o dinheiro pensando que, afinal de contas, tanta gente já nos lesou em outras oportunidades?
Somos daqueles que reclamamos que o mundo não tem mais jeito? Que ninguém se importa com ninguém?
Ou somos daqueles que estamos sempre atentos, verificando como e onde podemos ajudar?
Quando andamos nos coletivos urbanos, preferimos baixar a cabeça, fingindo que não vemos nada do que está acontecendo ao nosso redor, para que não tenhamos que ceder o nosso assento?
Ou nos importamos em verificar se uma pessoa idosa, alguém obeso, com criança ao colo, entra e nos levantamos de pronto, permitindo-lhe chegar ao seu destino sem maiores dificuldades?
Quando andamos pela rua, levando a passear o nosso animalzinho de estimação, preocupamo-nos em que ele não suje as calçadas e os gramados?
Tomamos cuidado para que ele não assuste crianças e idosos que igualmente passeiam pelas ruas, aquecendo-se sob o mesmo sol?
Quando andamos de bicicleta, respeitamos os sinais de trânsito, as leis e as pessoas?
Ou, para nossa segurança, andamos pelas calçadas que é o lugar dos pedestres?
Quando não encontramos vaga para estacionar o nosso carro, procuramos um estacionamento ou preferimos, por economia e comodidade, estacionar de forma irregular, em calçadas ou filas duplas?
Pensemos nisso: nossa maneira de ser e agir contribui valorosamente para melhorar ou piorar a sociedade de que fazemos parte.

* * *
Toda a mensagem de Jesus é um convite à criatura para o seu aperfeiçoamento que, em verdade, lhe constituirá felicidade.
Antes, pois, de termos como meta modificar os que nos cercam, modifiquemos a nós mesmos, servindo de exemplo.
O esforço pela perfeição elimina projeções negativas e estabelece diretrizes de harmonia.
Quem se modifica, melhorando-se, contribui com parcela preciosa para a melhoria da sociedade.

Mensagem de autoria ignorada


quinta-feira, 3 de março de 2016

Persistência

Um homem investe tudo o que tem numa pequena oficina. Trabalha dia e noite, inclusive dormindo no próprio local.
Para poder continuar nos negócios penhora, com muito pesar, as joias da esposa.
Quando apresenta o resultado final de seu trabalho a uma grande empresa, dizem-lhe que seu produto não atende ao padrão de qualidade exigido.
O homem desiste? Não!
Volta para a escola por mais dois anos, sendo vítima de grande gozação por parte de seus colegas, e de alguns professores que o tacham de visionário.
O homem fica chateado? Não!
Após dois anos, a empresa que o recusara, finalmente fecha contrato com ele, porém, durante a guerra, sua fábrica é bombardeada duas vezes, sendo que grande parte dela é destruída.
O homem se desespera e desiste? Não!
Reconstrói sua fábrica, mas um terremoto novamente a arrasa.
Será essa a gota d’água? O homem desiste? Não!
Imediatamente após a guerra segue-se uma grande escassez de gasolina em todo o país, e esse homem não pode sair de automóvel nem para comprar comida para a família.
Ele entra em pânico e desiste? Não!
Criativo, como de costume, ele adapta um pequeno motor à sua bicicleta, e sai às ruas.
Os vizinhos ficam maravilhados e todos querem também as chamadas bicicletas motorizadas.
A demanda por motores aumenta muito, e logo ele fica sem mercadoria. Decide então montar uma fábrica para essa novíssima invenção.
Como não tem capital, resolve pedir ajuda para mais de quinze mil lojas espalhadas pelo país. Como a ideia é boa, consegue apoio de mais ou menos cinco mil lojas, que lhe adiantam o capital necessário para a indústria.
Encurtando a história: hoje, a Honda Corporation é um dos maiores impérios da indústria automobilística japonesa, conhecida e respeitada em todo o mundo.
Tudo porque Soichiro Honda, seu fundador, não se deixou abater pelos terríveis obstáculos que encontrou pela frente.



Se você vive momentos difíceis, como quase todo o mundo, não se deixe desanimar e persista.
A vida reserva um prêmio maravilhoso para aquele que persiste, que tem fé, e que não se deixa abalar pelo desânimo.
O que sabemos é uma gota. O que ignoramos é um oceano.
E, se mesmo depois de uma vida inteira de persistência, você não conseguir desfrutar do conforto material desejado, saiba que conquistou algo muito maior, muito mais duradouro do que os tesouros da Terra.
Você conquistou um dos tesouros do coração a que chamamos virtude.

De qualquer forma as horas se sucedem. Utilize-as de maneira digna, mesmo que a peso de sacrifícios.
Quando você transpuser a barreira da dificuldade, constatará a vantagem de haver perseverado, descobrindo-se rico de paz, face aos tesouros de amor e realização que adquiriu.
Motivo algum deve servir de apoio para o desânimo.
Tudo na vida constitui convite para o avanço e a conquista de valores, na harmonia e na glória do bem.

cap. 10, do livro Episódios diários, pelo Espírito Joanna de Ângelis,
psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL.

Hoje eu posso escolher

Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia-noite.
É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.
Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição.
Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício.
Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo.
Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido.
Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter um trabalho.
Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus pela oportunidade da experiência.
Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não saíram como planejei, posso gastar os minutos a me lamentar ou ficar feliz por ter o dia de hoje para recomeçar.
O dia está na minha frente esperando para ser vivido da maneira que eu quiser.
E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma às ideias e utilidade às horas. Tudo depende só de mim.
Nesta mensagem atribuída ao saudoso Charlie Chaplin, astro de Hollywood, que encantou o mundo no tempo do cinema mudo, encontramos motivos de reflexões.
Sem dúvida, a vida é feita de escolhas...
O tempo todo estamos fazendo escolhas, elegendo o que fazer e o que não fazer, o que pensar e o que não pensar, em que acreditar e em que não acreditar.
A vida está sempre a nos apresentar opções. E as escolhas dependem exclusivamente de nós mesmos.
Não há constrangimento algum. Somos senhores absolutos da nossa vontade, no que diz respeito às questões morais.
Se é verdade que às vezes somos arrastados pelas circunstâncias, é porque optamos anteriormente por entrar nesse contexto.
Assim, antes de decidir por qualquer das opções que a vida nos oferece, é importante pensar nas consequências que virão em seguida.
Importante lembrar que não estamos no mundo em regime de exceção. Todos estamos na Terra para aprender. E as lições, muitas vezes, são mais simples do que pensamos.
Não imaginemos que as coisas e circunstâncias desagradáveis só acontecem para nos atingir. Elas fazem parte do contexto em que nos movimentamos junto a milhares de pessoas que vivem na Terra conosco.
* * *
Olhe, em seu jardim, as flores que se abrem e nunca as pétalas caídas.
Contemple, em sua noite, o fulgor das estrelas e nunca o chão escuro.
Observe, em seu caminho, a distância já percorrida e nunca a que ainda falta vencer.
Retenha, em sua memória, risos e canções e nunca os seus gemidos.
Conserve, em seu rosto, as linhas do sorriso e nunca os sinais da mágoa.
Guarde, em seus lábios, as mensagens bondosas e esqueça as maldições.
Conte e mostre as medalhas de suas vitórias e encare as derrotas como uma experiência que não deu certo.
Lembre-se dos momentos alegres de sua vida e não das tristezas.
A flor que desabrocha é bem mais importante do que mil pétalas caídas.
E um só olhar de amor pode levar consigo calor para aquecer muitos invernos.
Seja otimista e não se esqueça de que é nas noites sem luar que brilham mais forte nossas estrelas.




quarta-feira, 2 de março de 2016

A Maior Dor

Qual é a maior dor?


Você já pensou nisso?
Um jovem deixou um bilhete aos familiares, pouco antes de cometer suicídio, e expressou no papel o que estava sentindo.
Disse ele que a maior dor na vida não é morrer, mas ser ignorado.
É perder alguém que nos amava e que deixou de se importar conosco. É ser deixado de lado por quem tanto nos apoiava e constatar que esse é o resultado da nossa negligência.
A maior dor na vida não é morrer, mas ser esquecido. É ficar sem um cumprimento após uma grande conquista.
É não ter um amigo telefonando só para dizer Olá. É ver a indiferença num rosto quando abrimos nosso coração.
O que muito dói na vida é ver aqueles que foram nossos amigos, sempre muito ocupados quando precisamos de alguém para nos consolar e nos ajudar a reerguer o nosso ânimo.
É quando parece que nas aflições estamos sozinhos com as nossas tristezas. Muitas dores nos afetam, mas isso pode parecer mais leve quando alguém nos dá atenção.

* * *

É bem possível que esse jovem tenha tido seus motivos para escrever o que escreveu. Todavia, em nenhum momento deve ter pensado naqueles que o rodeavam.
Se pudesse sentir a dor de um coração de mãe dilacerado ante o corpo sem vida do filho amado...
Se pudesse experimentar o sofrimento de um pai que tenta, em vão, saber do filho morto o que o levou a tamanho desatino...
Se sentisse o desespero de um irmão que busca resposta nos lábios imóveis do ser que lhe compartilhou a infância...
Se pudesse suportar, ainda que por instantes, a dor de um amigo sincero a contemplar seus lábios emudecidos no caixão, certamente mudaria seu conceito sobre a maior dor.

* * *

Se você pensa que está passando pela maior dor que alguém pode experimentar, considere o seguinte:
Uma mãe que chora sobre o corpo do filho querido que foi alvo das bombas assassinas, em nome das guerras frias e cruéis.
Uma criança debruçada sobre o corpo inerte da mãe atingida por granadas mortíferas.
Um órfão de guerra que é obrigado a empunhar as mesmas armas que aniquilaram seus pais...
Um pai de família que assiste o assassinato dos seus, de mãos amarradas.
Enfim, pense um pouco nessas outras dores...
Pense um pouco nos tantos corações que sofrem dores mais amargas que as suas.
E se ainda assim você estiver certo de que a sua dor é maior, lembre-se daquela mãe que um dia assistiu a crucificação do Filho inocente, sem poder fazer nada.
Lembre-se também Daquele que suportou a cruz do martírio mas não perdeu a confiança no Pai, que tudo sabe.
E se ainda assim você achar que é o maior dos sofredores, considere que talvez o egoísmo esteja prejudicando a sua visão.

* * *

Pense nisso!

Descobrir qual é a maior dor, é muito difícil.
Mas a maior decepção é fácil de deduzir.
É a daqueles que se suicidam pensando que extinguirão a vida e com ela todos os problemas.
Esses saem do corpo, mas, indubitavelmente, não saem da vida e, muito menos, acabam com os problemas.
Portando, por mais difícil que esteja a situação, nunca vale a pena buscar essa porta falsa, chamada suicídio.
É importante lembrar sempre: por mais escura e longa que seja a noite, o sol sempre volta a brilhar.

Pense nisso!


terça-feira, 1 de março de 2016

Depois de cada filme

Uma sala de cinema, depois de cada filme, pode nos trazer reflexões interessantes.
O comportamento das pessoas apresenta algo de curioso.
Os créditos começam a surgir na tela e as luzes voltam a acender lentamente, avisando a todos que aquele sonho projetado no grande painel branco terminou.
Cada um que está ali, então, volta ao seu mundo, à sua dita realidade.
Saem apressados, atrasados, levados pela correnteza humana, quase que na velocidade da luz – da luz que volta a clarear a sala de projeção.
Porém existem alguns, apenas alguns, que permanecem um pouco mais.
Sentados, imóveis, de olhar distante, parecem ainda respirar naquele mundo criado à sua frente há poucos minutos.
Como se quisessem suavizar a transição entre uma realidade e outra.
Ficam ali, como se desejassem reter tudo aquilo um pouco mais... apenas um pouco mais.
Não querem permitir que a vida lá fora perca a lembrança do que acabaram de ver.
Esses podem ter suas vidas modificadas... com um simples filme.
O que esta história diz à minha vida?
Que características neste ou naquele personagem, tem a ver comigo, com meus sonhos, com minhas dificuldades?
O que posso aprender com estas vidas, com este mundo, por vezes tão diferente do meu?
São tantos os questionamentos que eles podem estar fazendo naquele momento...
Indagações que aqueles que saíram desassossegados em disparada, possivelmente não terão.
Para esses foi apenas entretenimento. Não conseguiram penetrar na esfera da arte, da beleza.
Sábios. Esses que permanecem agem com sabedoria. Buscam aprender tudo que a vida tem a lhes oferecer, e ela, por ser tão maravilhosa e perfeita, oferece lições a todo instante.
Mas que diferença pode fazer, ficar ali um pouco mais, pensando? – Alguém poderia questionar.
A diferença está na importância de parar para analisar todos os eventos de nossos dias.
No hábito da reflexão, extraindo dos acontecimentos sempre um saber a mais.
Será que estamos sabendo parar um pouco para pensar em cada evento de nosso viver?
Será que na maioria das vezes não agimos como os espectadores apressados, que não têm tempo para refletir?
Será que não estamos saindo muito cedo de nossas salas de projeção diárias?

Imagine ficar um pouco mais na cadeira, pensando naquele entardecer passado ao lado de alguém que você ama...
Imagine ficar um pouco mais na cadeira, curtindo aquele nascer de sol especial de uma manhã de trabalho...
Imagine ficar um pouco mais, acompanhando as peripécias de seu filho, aprendendo a andar, a falar, a abraçar...
Imagine permanecer, por alguns segundos que seja, lembrando das palavras de afeto, das risadas, trocadas com algum amigo numa noite qualquer...
Imagine a vida sem a pressa que lhe atribuímos, e com a qual acabamos por nos acostumar...
Experimente lembrar disso tudo na próxima vez que você estiver numa sala de cinema.
Procure as pessoas que ficam um pouco mais, e quem sabe, com alegria verá que você é uma delas.
Bem, na verdade você poderá começar a pensar sobre isso agora mesmo, depois que estas palavras chegarem ao fim, e escolher o tipo de pessoa que é: aquela que sairá apressada, mudará de estação, esquecerá de tudo; ou aquela que irá ficar com estes dizeres um pouco mais, pensando, refletindo.
Pense nisso.



do livro O que as águas não refletem,
capítulo Depois de cada filme
de Andrey Cechelero