terça-feira, 26 de julho de 2016

Gentileza sempre em alta

Ao contrário do que apontam alguns pessimistas de que hoje em dia ninguém se importa com ninguém, o número desses é muito baixo.
A maioria das pessoas se importa, sim, com os demais e auxilia, sem esperar recompensa, sem sequer dizer seus nomes e endereços para receber depois um muito obrigado.
Uma senhora contou que, após deixar o hospital, acompanhando seu marido, ela foi comprar os medicamentos que lhe tinham sido prescritos.
A dificuldade foi grande porque as farmácias da cidade não queriam aceitar o seu cheque, que era de outra cidade.
Quando ela contou ao médico o que havia acontecido, ele prontamente retirou o seu talão de cheques da pasta, assinou os cheques e disse: Isso não vai ser mais problema. Você me devolve quando puder.
Naquela hora, ela não se conteve: chorou de emoção. Afirmou que se lembrará daquele gesto para sempre. Tornaram-se amigos e ele continua sendo o médico da família.
Outra pessoa relatou que, todos os dias, às cinco horas da manhã, esperava o ônibus para o trabalho.
Certa manhã, quando estava no ponto aguardando a condução, uma moto estacionou na sua frente.
Era o motorista do ônibus avisando que a linha que ela estava acostumada pegar havia acabado. E, completou ela, ele percorreu todo o trajeto do ônibus, informando os passageiros sobre o fim daquela linha.
Isso se chama desprendimento, atenção, importar-se com o outro.
Finalmente, existe o relato daquele senhor que foi transferido da agência bancária, em que trabalhava, para uma cidade de Minas Gerais, chamada Passa Quatro.
Mudou-se com a mulher e os quatro filhos. Fizeram a viagem de carro, chegando na casa que haviam alugado ao mesmo tempo que o caminhão que trazia a mudança.
As crianças estavam com fome, choravam com saudades dos amigos que haviam ficado para trás.
A esposa não sabia se atendia os filhos ou se dava ordens para os homens que estavam descarregando a mudança.
Nessa hora, dona Ana se apresentou como sua vizinha, trazendo nas mãos uma bandeja com uma jarra de suco de laranja, biscoitos e sanduíches.
Não somente alimentou a todos, mas se prontificou a distrair as crianças, enquanto os pais arrumavam os móveis.
Foi essa acolhida carinhosa e alegre que trouxe excelentes consequências. O casal decidiu construir ali sua casa, e permaneceu na cidade, mesmo após a aposentadoria do pai de família.
* * *
A gentileza existe e está em alta. Há um número muito maior de pessoas que estão atentas ao que acontece ao seu redor e dispostas ao auxílio do que possamos imaginar.
Se desejar engrossar esse número, é muito simples. Na próxima vez que for ao mercado olhe para os lados e observe se um idoso não está precisando de ajuda para descobrir o preço de alguma mercadoria.
Ou se uma mãe não está tendo alguma dificuldade com seu bebê.
Seja gentil: ajude a colocar as compras no carro, ceda sua vez no caixa, converse enquanto aguarda, acalme uma criança, sossegue alguém irritado com a demora da fila.
É isso que torna o nosso mundo melhor, a cada novo dia. 




com base no artigo A gentileza de estranhos, 
de Seleções Reader's Digest, de novembro/2002. 




#dickadodia


sábado, 23 de julho de 2016

A arte da imperfeição


Algumas pessoas são conhecidas como perfeccionistas. O vocábulo significa pessoa que tem a tendência obsessivamente exagerada para atingir a perfeição naquilo que faz.
Realizar o melhor no que se faça é qualidade elogiosa. Contudo, quando beira à obsessão, traz infelicidade à pessoa e aos que convivem com ela.
Se for alguém com cargo de chefia, bastante complicado será conseguir uma equipe de trabalho que consiga atender as suas exigências.
No trato doméstico, por sua vez, difícil será lhe atender às expectativas, pois nunca a roupa estará impecável como deseja, ou a comida com o exato sabor, ou os móveis com total ausência do mínimo pó.
A pessoa acaba por gerar em torno de si um halo de antipatia e má vontade porque, de antemão, todos já sabem que, por mais se esforcem, nunca alcançarão o grau de perfeição por ela idealizado.
Conta-se que, no século X, o jovem Rikyu queria aprender os complicados rituais da cerimônia do chá e procurou o grande mestre Takeno Joo. Para poder aceitar o rapaz, era necessário submetê-lo a um teste.
Então, o mestre mandou que ele varresse o jardim. Rikyu limpou o jardim até que não restasse nem uma pequena folha fora do lugar.
Ao terminar, examinou cuidadosamente cada centímetro da areia do impecável jardim. Cada pedra estava em seu lugar e todas as plantas estavam perfeitamente ajeitadas.
Porém, antes de apresentar o resultado ao mestre, Rikyu chacoalhou o tronco de uma cerejeira e fez caírem algumas flores que se espalharam, displicentes, pelo chão.
Mestre Joo, impressionado, admitiu o jovem no seu mosteiro. Rikyu tornou-se um grande mestre do chá e, desde então, é reverenciado como aquele que entendeu a essência do conceito de Wabi Sabi: a arte da imperfeição.
Perceber a beleza que se esconde nas imperfeições do mundo é uma arte. Os tapetes persas sempre ostentam um pequeno erro, um minúsculo defeito, com o objetivo de lembrar a quem olha de que só Deus é perfeito.
Assim é a condição humana, e a arte da imperfeição começa quando aprendemos a reconhecê-la e aceitá-la.
A sabedoria está em saber viver no mundo, em harmonia com o mundo, respeitando tudo e todos.
Perceber a Sabedoria Divina na diversidade das cores na natureza e na pele dos homens.
Por isso, cada criatura é especialmente única em termos de sentimentos e qualidades. Ninguém é igual ao outro, como na natureza, nenhuma folha é exatamente igual à outra.
Isso fala da grandeza de Deus. Isso nos convida a sermos compreensivos com as qualidades do próximo que nos serve, que convive conosco, que nos ama.
Apreciar a peraltice da criança inquieta, o andar lento e descompassado de quem venceu os anos e avança no novo século, de quem tem a agilidade do vento, de quem traz a cabeça mergulhada em sonhos.
Vivamos, portanto, no mundo, amando, servindo e investindo em nosso aperfeiçoamento moral.
E aprendamos a olhar as pessoas como sendo as flores da cerejeira caídas de forma displicente, bordando delicadamente o verde gramado, com a certeza de que elas conferem a verdadeira beleza a esse imenso jardim de Deus, chamado Terra.



com base em pesquisa sobre Wabi Sabi, A arte da
imperfeição.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Dádivas de Deus

Você já se deu conta, alguma vez, de quantas pessoas já passaram por sua vida?
Já percebeu que algumas entram em sua vida por uma razão, outras por uma estação e algumas permanecem a vida inteira?
Quando alguém penetra em sua vida por uma razão, é geralmente para suprir uma necessidade que você demonstrou.
Esse alguém vem para auxiliá-lo numa dificuldade. Para lhe fornecer orientação e apoio e ajudá-lo física, emocional ou espiritualmente.
Tão importante se faz a presença dele que você acredita que ele é uma dádiva de Deus. E é.
Depois, um dia, da mesma forma que entrou em sua vida, assim também ele se vai.
Pode ir através da porta da morte ou simplesmente partir para outros lugares.
Mas a sua necessidade foi atendida e o trabalho daquela pessoa foi feito. As suas orações foram atendidas e agora é tempo de ir.
Por outro lado, existem pessoas que entram em sua vida por uma estação. É um período mais longo. Trazem a experiência da paz, da tranquilidade. Ensinam alguma coisa que você nunca havia feito antes.
Essas são a dádiva de Deus mais prolongada, manifestando-se em semanas e meses.
Permanecem com você por um período. Por vezes, são as que encaminham os seus primeiros passos na profissão e, tão pronto o conseguem, desaparecem das suas vistas. Mudam-se para outras estâncias, tomam outros caminhos e é possível que você nem mais as encontre nesta vida.
De outras vezes, são aqueles que amparam os anos da sua infância ou da sua juventude e tão logo percebam suas pernas firmes, as ações seguras, também se vão, deixando somente as marcas da sua presença no seu caráter: honestidade, honradez, perseverança.
Finalmente, existem os que penetram sua vida durante toda a sua duração, nesta Terra.
Esses ensinam lições para a vida inteira. Coisas que você deve construir para ter uma formação emocional sólida.
São irmãos que crescem com você e, mesmo depois de formarem seus próprios lares, continuam a realizar com você muitas coisas.
São pais que atravessam os anos, até a velhice, acompanhando os seus passos, incentivando sempre.
É o cônjuge que se transforma em parceiro das lutas mais acerbas e dos momentos mais doces.
Todos eles, os que chegam por uma razão, uma estação ou a vida inteira são as dádivas de Deus na sua vida. Saiba reconhecê-las e apreciá-las.
* * *
Você está mergulhado no oceano do amor de Deus. Todos os dias, gotículas Desse amor alcançam você, no sorriso do seu filho, no abraço do amigo, na palavra confiante de um colega, no incentivo de quem ama e confia em você.
Em sua vida, não deixe de olhar ao seu redor e descobrir essas preciosidades que Deus envia ao seu caminho por uns dias, uns meses ou até para além da morte.
São expressivas bênçãos de Deus, presentes da Divindade aos Seus filhos, mergulhados na carne, sempre carentes de cuidados e amor.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O fogo que aqueceu o menino

Conta-se...
Que o fogo que aqueceu o menino
Ao lado da manjedoura,
Naquela noite inesquecível,
Sentiu-se profundamente honrado em servir, de forma tão especial... Mesmo que por tão pouco tempo.
Conta-se...
Que nem mesmo o fogo foi o mesmo,
Depois da chegada daquele menino.
* * *
Talvez a palavra servir ande desgastada.
Ou ainda, vague por aí nas brumas da incompreensão ou do preconceito, como tantas outras.
Falar em servir, falar em servo, remete-nos a sofrimento, a subserviência, a subjugação. E, disso tudo estamos enfadados realmente.
Porém, a palavra servir é uma das mais belas que existe, uma vez que descobrimos seu verdadeiro sentido. E, nada como o Natal para descobrir significados novos, ampliar horizontes, refazer caminhos e compreensões da vida.
Servir é devotar-se a algo, a alguém. Servir é entregar-se a uma causa, a um amor, a um ideal.
Assim, ser servo é ter sentido na vida, é ter noção clara para onde se quer seguir todos os dias.
Servir àfamília, servir ao casamento, servir à profissão, servir à comunidade...
Não se trata de se colocar abaixo, no sentido de se ter menos valor do que... Trata-se de doar-se inteiramente a algo em que se acredita.
Se percebermos bem, em a natureza tudo serve. E mais, serve feliz.
Notemos isso com atenção: na natureza tudo serve com alegria.
Quando encontrarmos, finalmente, nossa vocação maior de servir, servir por completo, descobriremos um caminho seguro para nossa própria felicidade.
Neste Natal, quando recordamos o nascimento do Mestre entre nós, e refletimos sobre tantas coisas, pensemos sobre isso.
Ele, o maior de todos, Espírito puro, foi capaz de dizer: Estou entre vós como quem serve.
Sim, Ele se comportou como grande servidor. Suas lições, Seus exemplos, Sua doação completa foram Sua forma sublime de nos servir, para que conhecêssemos o amor de uma forma nunca antes ensinada.
O espírito do Natal, então, é o espírito de servir, de dar, de dar-se, e não de receber.
Olhe para os lados e pergunte: De que forma posso servir melhor minha família? De que forma posso servir minha comunidade? Como posso ser um bom servidor de meu país?
Cada um de nós pode servir de muitas formas!
Não é necessário ter posses para servir. Servimos com palavras, com habilidades, com nosso tempo, com nosso sorriso, com nossa amizade.
Façamos algo diferente neste Natal, perguntando: De que forma posso servir? De que forma posso servir melhor?
A vida vai nos responder prontamente, pois o trabalho sempre aparece para aqueles que se predispõem a laborar pelo bem.
Dessa forma, estaremos figurando nas fileiras luminosas daqueles que trabalham pelo bem na Terra, daqueles que, incansáveis, vêm sendo os agentes transformadores do planeta.
Juntemo-nos a esses tantos servidores humildes, anônimos, do bem. Juntemo-nos aos servidores do Cristo, prestando-lhe a mais bela homenagem que se pode prestar em Seu aniversário.

 
Conta-se...
Que nem mesmo o fogo foi o mesmo,
Depois da chegada daquele menino. 




versos do poema 
O fogo que aqueceu o menino, de

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Definição de Amigo

Amigo é alguém que está envolvido com os nossos ideais e serve de alavanca para que, juntos, os realizemos.

Amigo não compete: soma forças e acrescenta.

Amigo é alguém que tem mais ou menos o nosso rítmo e não nos deixa esperando quando o assunto é importante. Aliás, Amigo sempre sabe o que é muito importante para nós.

Amigo, quando não concorda ou não aprova alguma atitude que venhamos a tomar, coloca-se de forma direta, sem rodeios. Ele não some, não fica emburrado, não faz jogo nem nos dá a retaliação do silêncio indecifrável.

Amigo é alguém que, estando acima de nós, nos ensina com bondade e estando abaixo de nós, aprende com simplicidade. Amigo é instrutor e aprendiz simultaneamente.

Amigo entende de diferenças individuais e as respeita, sem contudo traçar linhas divisórias intransponíveis que causam desapontamentos e bloqueiam a livre expressão da nossa maneira de ser.

Amigo é alguém a quem confiamos desde uma confidência até um testamento.
É alguém para quem podemos ligar ou procurar a qualquer hora porque há horas na vida que não podem esperar mais um minuto.

Amigo rejubila-se com a nossa vitória e sabe tornar a nossa derrota suportável.

Para um Amigo podemos contar os nossos feitos sem que pareça arrogância ou ostentação e podemos narrar as nossas fraquezas e fracassos sem que pareça humilhação.

Quem tem um amigo assim pode dizer que encontrou um tesouro.
Os demais não são amigos. São colegas eventuais sem comprometimento e estes sempre temos às dúzias.

Se você tem ao menos um Amigo, erga as mãos para o céu pela dádiva.
Seja para ele tudo que ele é para você e um pouco mais.

Aos colegas eventuais ... a eventualidade.
Ao Amigo verdadeiro, a incondicional Amizade!

Uma visita de amor

As três crianças chegaram ao anoitecer. Tristes, traziam nos semblantes as dores choradas por horas.
De mãos dadas, adentraram o que lhes seria, a partir de então, o novo lar.
A mãe havia partido no dia anterior, no rumo do Mundo Espiritual.
O Diretor da Instituição as recebeu e tentou acarinhá-las, desejoso de compensar-lhes o aconchego perdido.
Porque estivessem tomadas todas as camas, ele cedeu a sua para que as três pudessem dormir, naquela noite.
Ele próprio se acomodou, de forma improvisada, no mesmo quarto.
Adormeceram as crianças, abraçadas, num intuito de uma a outra darem proteção.
Na madrugada, algo despertou aquele homem. Abriu os olhos e percebeu um grande clarão próximo à cama dos pequenos.
Tentou erguer-se mas não conseguiu. Uma forma feminina, no meio da luz intensa, lhe disse: Não se mexa. Fique aí. As crianças estão bem.
E deteve-se, especialmente, ao lado do menor dos garotos. O mais desalentado daquele trio.
Durante algum tempo ali permaneceu. E o Diretor, cansado, acabou por adormecer outra vez.
Quando a manhã sorriu, entrando jovial pela janela, ele despertou os meninos.
Enquanto auxiliava o menorzinho a se vestir, percebeu que ele estava muito quieto. Depois, em certo momento, perguntou:
Senhor, minha mãe veio me visitar ontem à noite. O senhor viu?
O Diretor aconchegou a si o pequeno e consentiu:
Sim, meu filho. Eu vi.

A morte não destrói os afetos, nem os relacionamentos.
Os que abandonam o corpo prosseguem, de onde se encontram, a velar pelos que permanecem na Terra.
Amores profundos se perpetuam e onde quer que haja um coração dorido de saudade, o ausente amado se faz presente.
Ninguém está só, no mundo, embora a pobreza dos sentidos nem sempre nos permita o registro dos amados.
Contudo, quando à mente nos assoma a imagem de quem realizou a grande viagem; quando a lembrança dos amores, repentinamente, nos emociona; quando a saudade embala recordações... acreditemos: os amores estão próximos.
São suas presenças que acionam nossos registros mentais e motivam esses quadros doces e acalentadores.
Quando isso ocorrer com você, feche os olhos, sinta o perfume do amor beijar-lhe a face, e agradeça a Deus pela dádiva do reencontro.
Depois, amenizada a saudade, enxugue o pranto, sorria e prossiga nas lutas, aguardando no tempo o reencontro definitivo, quando as sombras da morte igualmente o abraçarem.



O estranho e o extraordinário, de Charles Berlitz, ed.Best Seller. Em 29.7.2013
capítulo "A visita da mãe a um órfão"

terça-feira, 19 de julho de 2016

Nós e a natureza


Nossa vida neste mundo... tão breve. E agimos como visitas inconvenientes.
Exaurimos o lugar em que vivemos, revolvemos as entranhas da Terra, amontoamos toneladas de lixo, poluímos as águas, matamos as árvores, extinguimos os animais.
E agora, que as consequências da aventura humana se fazem notar, nós, que desrespeitamos a vida, tememos pelo amanhã. Encolhemo-nos assustados: Que virá?, Perguntamos.
Silêncio por resposta.
No fundo das consciências, sabemos que a razão para esse estado de coisas é que nos afastamos da natureza, passamos a nos ver separados dos demais seres.
Dividimos o mundo e abrimos um abismo entre nós e o restante da Criação.
E, no entanto, por toda parte, a vida nos revela que somos irmãos de todas as criaturas.
Em nossas veias corre sangue alimentado por minerais como ferro, potássio, manganês e zinco. Somos irmãos da terra.
Nosso corpo é constituído por mais de setenta e cinco por cento de líquido. Somos irmãos da água.
A sequência genética revela que nossos gens são semelhantes aos de ratos e outros animais. Somos irmãos – ou pelo menos primos – de todos os bichos.
As vitaminas das frutas e vegetais se integram ao nosso organismo e mantêm a vida física.
O gás carbônico que expiramos será absorvido pelos vegetais: somos irmãos das plantas e das árvores.
No interior de nossos pulmões, o oxigênio transita livre, nutrindo a vida. Somos irmãos do ar.
Nosso corpo é formado do mesmo material que estrelas, pássaros, flores e pedras. Então, ser parte da irmandade universal é muito mais do que uma bela figura simbólica.
Somos verdadeiramente parentes de tudo o que existe. Estamos integrados na Criação de Deus. Astros, plantas e nós somos uma família que está unida na grande caminhada que chamamos vida.
Essa imensa integração deveria nos servir de profunda reflexão: Será que estamos de fato agindo como irmãos dos outros seres?
Agir como irmão é zelar, cuidar, preservar. É assim também que demonstramos nosso amor a Deus: tratando com bondade, compaixão e amor a todas as coisas e seres que Ele criou.
No entanto, passamos pela vida desatentos a esses pequenos gestos. É um sinal inequívoco de que precisamos repensar atitudes egoístas.
Já não é mais tempo de desperdiçar comida, amontoar lixo desnecessariamente.
Já não mais podemos sujar fontes de água. Ou mudamos de atitude agora ou nos tornaremos uma ameaça ao futuro de nossa espécie na Terra.
O planeta está exausto e as consequências dos excessos humanos já podem ser vistas: tsunamis, furacões, efeito estufa, aquecimento global.
São sinais de alerta de que nosso mundo azul está cambaleante, abatido.
É a nossa hora de agir, de demonstrar gratidão a Deus mediante atos generosos, conscientes e responsáveis.
Assim, quando nos decidirmos afinal a cuidar do planeta que nos acolhe; quando adotarmos uma postura de responsabilidade perante o mundo em que vivemos; quando nos sentirmos tocados pela compaixão por todas as criaturas, vale a pena lembrar que não estamos fazendo favor algum: é nosso dever. Simples e básico dever.
Faça da Terra um lugar muito mais feliz. Não esqueça que nele viverão seus filhos e netos, as gerações futuras. Ou você mesmo, em uma próxima existência.
Pense nisso!


segunda-feira, 18 de julho de 2016

A Águia

A águia é usada como símbolo dos que esperam no Senhor e nEle confiam. Essa ave é interessante desde sua origem. Um frango está pronto para ser vencido no mercado em nove semanas. Águias não, elas levam, como no caso da águia real, até um ano para voarem sozinhas. Verdadeiros cristãos são como águias: podem levar tempo para amadurecer. Primeiro trigo, depois erva verde, finalmente fruto.

Você pode ver pombos, andorinhas e periquitos voando em bandos. Águias, não, sempre estão sozinhas, no máximo duas. Ficam lá no alto, olhando o azul infinito.

É do alto que vem o poder do cristão, que muitas vezes tem que ficar sozinho por causa de seus princípios. Não tenha medo de ficar só. Geralmente, o cristão anda na contramão da vida. Este mundo não foi feito nos moldes presentes para o povo de Deus. Voe alto, embora os que voam alto não sejam compreendidos. Quando alguém não é compreendido é temido e quando alguém é temido é criticado e condenado.


Alguma vez já pensou aonde vão as águias quando a tormenta vem? Aonde é que elas se escondem? Elas não se escondem. Abrem suas asas, que podem voar a uma velocidade de até 90km por hora, e enfrentam a tormenta. Elas sabem que as nuvens negras, a tempestade, e os choques elétricos podem ter uma extensão de 30 a 50m, mas lá em cima brilha o sol. Nessa luta terrível podem perder penas, podem se ferir, mas não temem e seguem em frente. Depois, enquanto todo mundo fica às escuras embaixo, elas voam vitoriosas e em paz, lá em cima.

Finalmente, as águias também morrem, mas alguma vez você achou por aí um cadáver de águia? De galinha talvez, de cachorro ou de pombo, quem sabe até de um bicho do mato nessas extensas estradas de reservas ecológicas, mas cadáver de águia, você não encontra. Sabe por quê? Porque quando elas sentem que chegou a hora de partir, não se lamentam nem ficam com medo. Procuram com seus olhos o pico mais alto, tiram as últimas forças de seus cansados corpos e voam aos picos inatingíveis e aí esperam resignadamente o momento final. Até para morrer elas são extraordinárias.

Talvez por isso o profeta Isaías compara os que confiam no Senhor a águias. Quem sabe hoje você tem diante de si um dia cheio de desafios. Alguns deles podem parecer impossíveis de ser vencidos, mas lembre: descanse no Senhor, passe tempo com Ele e depois parta para a luta, sabendo que além daquela tormenta brilha o sol.
 (Alejandro Bullon)

“Mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam” (Isaías 40:31).


domingo, 17 de julho de 2016

Limonada do bem

Um menino de sete anos conseguiu arrecadar cerca de cento e dezenove mil reais, vendendo limonada caseira e com doações pela Internet.
Seu objetivo foi ajudar seu amigo com paralisia cerebral a realizar uma cirurgia cara e complexa.
Quinn Callander quis montar sua própria barraca de limonada em Maple Ridge, na Colúmbia Britânica, no Canadá, quando ficou sabendo que seu amigo, Beaver, também de sete anos, precisaria de uma operação para ajudar na recuperação de movimentos.
O braço e a perna do lado direito de Beaver foram afetados pela paralisia.
A cirurgia poderia ser feita nos Estados Unidos, mas o custo era de quase vinte mil dólares, cerca de quarenta e cinco mil reais.
Ao ficar sabendo disso, Quinn pediu à mãe que o ajudasse a montar uma banca para venda de limonada. A banca foi montada em determinado domingo, para ajudar o amigo e, ao mesmo tempo,uma campanha foi aberta na Internet, para buscar ajuda coletiva, em um Crowdfunding.
Na página, há um texto explicativo contando que Quinn e Brayden vão à escola juntos, mas que a paralisia cerebral de Brayden torna difícil o seu andar e que a fisioterapia diária para mantê-lo andando é dolorosa.
O resultado da campanha surpreendeu a todos: em apenas vinte e cinco dias, foram arrecadados mais de cinquenta e três mil dólares, trinta e três mil a mais que o valor necessário para a cirurgia.
Ou seja, Quinn conseguiu o que queria.
De acordo com as informações da família, a cirurgia de Brayden já foi marcada para os próximos meses.

* * *
É tão bom saber que estamos começando a nos apoiar mutuamente dessa forma!
Que as redes sociais, utilizadas para o bem comum, estão sendo veículos de financiamentos coletivos para causas nobres.
Que não precisamos ficar dependentes de grandes órgãos, instituições, governos, e que podemos nos amparar tomando iniciativas grandiosas através da união de nossas forças.
Esta é uma das caras da caridade dos novos tempos, do mundo de regeneração, onde ainda teremos muitos que precisarão de ajuda, mas que serão sempre prontamente amparados, erguidos, pelos mais fortes, toda vez que precisarem.
E, muitas vezes, o exemplo vem dessas crianças novas que nascem no planeta, Espíritos que reencarnam com missões especiais, sem tantos vícios morais e propensas ao bem.
Elas vêm liderar um movimento novo, o movimento da instalação de um novo tempo, de um tempo de entendimento entre as raças, de respeito ao planeta, de resgate da dignidade humana.
Podemos tê-las dentro de nosso próprio lar, inclusive, e tudo que precisam de nós, pais, é que lhes demos oportunidades de fazerem o bem, de construírem sua sensibilidade, sua compaixão, pois esses serão grandes instrumentos de trabalho no planeta.
Observemos nossas crianças, suas tendências, seus desejos. Alimentemos sua bondade. Não calemos sua vontade de ajudar, de se comunicar, de interagir, de pensar nos outros, de se importar.
Basta de gerações de indiferença, de egoísmo, de individualismo. Isso já nos custou muito caro.
É tempo da nova geração.
 

com base em reportagem publicada pelo site g1.globo.com em 8.7.2014.


sábado, 16 de julho de 2016

Com doçura

O rapaz entrou na repartição pública, de forma impetuosa e sentou-se em frente à recepcionista. Antes que ela pudesse abrir a boca para cumprimentá-lo ou lhe perguntar a que vinha, ele desatou a falar.
Falava sem parar, sem pausas, sem pontos nem vírgulas. As suas eram reclamações pesadas, porque, dizia, todos estavam contra ele.
A moça logo verificou que ele estava totalmente fora de controle e tentou perguntar: O que o senhor deseja que fa...?
O rapaz a interrompeu, de imediato, dizendo que ela ficasse quieta porque ele não concluíra o rol das reclamações. No entanto, embora ela se mantivesse silente, ouvindo, ele foi elevando o tom de voz, de forma que atraiu a atenção dos colegas das salas próximas.
Agora, várias pessoas se encontravam ali, preocupadas com a integridade física da recepcionista, dado o descontrole que ele manifestava.
A chefe de gabinete acionou a segurança, pedindo que, de forma discreta, ficasse à porta, para alguma eventualidade mais grave.
Cada qual ali presente, por sua vez, foi tentando estabelecer um diálogo com o jovem. Ele respondia a uma ou outra pergunta que lhe era feita, mas sempre em altos brados.
Então, uma jovem, de voz doce, lhe indagou: Você quer um copo d´agua?
Ele parou, surpreendido e disse: Quero sim, obrigado.
Ela logo retornou com a água e uma barra de chocolate. Os olhos dele brilharam.
Não como há bastante tempo! – Desabafou.
Na sequência, ela lhe foi perguntando a respeito de seu pai, se eles se falavam, se o pai o poderia ajudar na situação em que se encontrava.
Ele foi se acalmando e, tocado pela doçura da voz, o acolhimento que sentiu, foi respondendo, uma a uma as questões, o que permitiu pudesse receber atendimento.
Os que acompanhavam o desenrolar das cenas, ficaram boquiabertos. Eles, embora de forma serena, haviam tentado o diálogo, sem êxito.
No entanto, ela, com a sua doçura, lembrando-se de lhe oferecer algo que o pudesse confortar, retirando-o da crise de lamúrias, foi quem conseguiu.
Mais do que seu gesto, a doçura que colocou nas palavras teve o condão de modificar a disposição daquele jovem.
Atendido, ele se levantou e se dirigiu à porta. A segurança fora previamente dispensada. Ele se voltou, olhou para todos e disse: Obrigado. Nunca fui tratado como gente como aqui.
E, com a cortina das lágrimas quase a romper em caudal, se foi. 


* * *
Por vezes, na mecânica das atitudes, nos esquecemos o quanto a doçura pode conseguir. Esquecemos de que pessoas que estão quase fora de si, por vezes, somente estão dizendo, de forma desesperada: Olhe para mim. Trate-me bem. É tão pouco o que eu peço: me ouça.
Há muita carência de amor, de afeição, no mundo. Fiquemos atentos e sejamos mais atenciosos com quem nos busca na repartição, no escritório, na escola.
Francisco de Assis, com sua doçura, falou ao irmão lobo, assassino da região, e dele conseguiu adesão à mudança de hábitos.
Nós também, utilizando doçura, poderemos alcançar corações em turbulência, que somente aguardam um gesto de bondade, para alterarem o rumo da própria vida.
Pense nisso.


quinta-feira, 14 de julho de 2016

Palavras

Na maternidade de uma grande cidade, um fato começou a chamar a atenção de uma enfermeira.
Ela era encarregada do berçário e procurou o chefe da pediatria.
Havia notado que todos os bebês que ficavam no último berço, no canto, choravam menos. Dormiam melhor.
O que seria? O médico brincou com ela. Quem sabe seria um berço milagroso?
Talvez fabricado com madeira especial. Quem sabe haveria uma fada protetora? Como a enfermeira insistisse, ele disse que iria contratar um detetive.
Resolveu ele mesmo investigar. Descobriu que a enfermeira tinha razão.
Os bebês que ali ficavam eram sempre mais acomodados. Deveria existir uma causa. O posicionamento do berço. Melhor ventilação. Colchão mais confortável. Menos ruídos. Checou tudo.
As condições eram absolutamente iguais em todos os berços.
Pensou na alimentação. Negativo. Os bebês eram alimentados dentro de critérios e horários rigorosamente observados.
E se houvesse diferença de tratamento? Alguma enfermeira mais eficiente, encarregada daquele berço? Também não.
Todas se revezavam no atendimento. Intrigado, o pediatra passou a visitar o berçário em horários diferentes.
Foi numa noite, perto das vinte e duas horas, que encontrou a solução.
A enfermeira de plantão estava no seu posto. A encarregada da limpeza passava o pano molhado no chão.
Ficou observando-a. Era uma senhora idosa. A tarefa lhe era penosa.
Então, ficou em frente ao berço privilegiado, enquanto descansava.
Começou a conversar com o bebê: Vida dura, meu anjinho. Minhas costas doem como se tivessem recebido pauladas.
Gracinha! Você deve estar feliz. Sombra e água fresca. Comidinha na hora certa.
Durante vários minutos, ela conversou com o ocupante do berço. Depois, retornou ao serviço.
O médico sorriu. Tinha resolvido o enigma. Encontrara a fada.
No dia seguinte, as enfermeiras receberam importante orientação.
Deveriam conversar com os bebês, enquanto cuidavam deles. O privilégio de um berço estendeu-se por todo o berçário.
* * *
A palavra é um instrumento que poucos utilizam como deveriam.
A arte de falar é conquista. Deve-se dispor desse abençoado instrumento para preservar a vida. Para enriquecê-la de bênçãos.
A boa palavra consola. Também ampara. Ensina. Salva. Falar sobre o bem, o amor e a esperança. Propor alegria entre as criaturas.
Ensiná-las a adquirir segurança pessoal. Transmitir-lhes carinho e ternura.
Expunha conceitos de forma simples. Conteúdo profundo.
Por isso, até hoje, permanece atual e sensibiliza os que tomam contato com seus ditos.
Travemos relação de amizade com Jesus. Comuniquemo-nos com o próximo. Irradiemos alegria e paz pela palavra como ele fazia.
* * *
Não critiquemos. Abençoemos. Falemos auxiliando para o bem. Não discutamos. Demonstremos.
Não nos percamos em palavras vazias. Sirvamos sem reclamar.
com base no

cap. O enigma do berço, do livro Encontros e
desencontros, de Richard Simonetti, ed. Gráfica
São João; no cap. 11, do livro Episódios diários
e no cap. 4 do livro Momentos de iluminação,
ambos pelo Espírito Joanna de Ângelis,
psicografia de Divaldo Pereira Franco

terça-feira, 12 de julho de 2016

A voz do coração

Encontramos, no seio da cultura greco-romana, a origem da relação existente entre coração e sentimentos.
Naquela época não se conheciam as diversas funções cerebrais e, além disso, o coração é o órgão que registra de maneira mais sensível a variação de nossas emoções.
Quem nunca sentiu o coração disparar ao abraçar um grande amor, ao levar um susto, ao sentir medo, ao sentir raiva?
A origem da palavra coração é um tanto incerta. Na Grécia Antiga, havia a palavra kardia, amplamente utilizada até hoje na língua portuguesa, como é o caso, por exemplo, do vocábulo cardíaco.
Em Roma, tínhamos a palavra cor ou cordis, das quais deriva uma infinidade de palavras que dão a ideia da ligação entre o coração e os sentimentos.
Tal é o caso da palavra concordar, formada pelas palavras latinas con e cordis, isto é, com coração. Ou seja, quando duas pessoas concordam, é porque seus corações estão juntos, unidos.
Recordar, por sua vez, quer dizer trazer novamente ao coração, da mesma forma que saber de cor significa saber com o coração.
Como último exemplo, temos o vocábulo coragem que significa viver com o coração, ou seja, viver de acordo com o que diz o coração.
Embora os avanços da neurociência e a descoberta de como se processam nossas emoções, a verdade é que o coração continua a ser, figuradamente, a sede dos sentimentos.
Expressões como o amor que há em meu coração, por exemplo, são bem comuns em nossa sociedade.
O próprio Jesus utilizou-se dessa figura de linguagem. O Evangelista Mateus, no capítulo onze de seu Evangelho, registra as palavras do Cristo: Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração.

* * *
Você já parou hoje para ouvir a voz de seu coração?
Em nossas vidas, tantos são os compromissos, as responsabilidades, que passamos semanas sem darmos um minuto de atenção a nós mesmos.
De repente, ao longo do dia, sentimos aquela vontade quase irresistível de telefonarmos para nossos pais, para nosso marido, esposa e simplesmente dizermos: Oi, tudo bem? Eu te amo!
Nosso coração anseia por tal gesto, mas tantos são os deveres a serem cumpridos, as metas a serem alcançadas, que simplesmente deixamos para depois. E esse depois nunca chega.
Então nos lembramos daquele velho amigo tão querido, que há tempo não vemos. O coração se enche de saudades e pede para que façamos uma ligação, marquemos um encontro, convidemos para um jantar.
Porém, nesta semana, a agenda está cheia de compromissos e na outra também. Por isso, deixamos para daqui duas semanas. Mas as obrigações são diversas. As duas semanas se passam e com elas a lembrança da ligação.

* * *
A voz do coração é doce, melodiosa, terna, humilde. É um convite gentil.
Jamais se impõe e jamais se contradiz.
Entretanto, para ouvi-la, é necessária a conscientização da alma, a entrega dos sentidos e o desapego das horas.
Conscientize-se. Sinta. Entregue-se. Desapegue-se.
Ouça o seu coração.



segunda-feira, 11 de julho de 2016

Sob a sombra de um carvalho

Não há como substituir um velho companheiro.
Nada vale o tesouro de tantas recordações comuns, de tantos momentos difíceis vividos juntos, tantas desavenças e reconciliações; tantas emoções compartilhadas. 



Não se reconstroem essas amizades.
É inútil plantar um carvalho na esperança de poder, em breve, se abrigar sob a sua sombra.
O belo pensamento é de Saint-Exupéry, em seu texto Terra dos homens, e nos remete a uma temática deveras importante: a construção de nossas relações com os outros.
Convidamos você, neste momento, a lembrar de um grande companheiro de sua vida: um velho companheiro, um amigo, um pai, uma mãe, um irmão, irmã...
Passe uma revista rápida pelos anos de convívio e tente perceber como essa relação se formou e se consolidou ao longo do tempo.
Lembre-se das tantas emoções compartilhadas, dos momentos felizes e dos momentos tristes.
Certamente a cumplicidade, a amizade, o devotamento não surgiram prontos, acabados.
Certamente a confiança e o profundo apreço não nasceram repentinamente.
Muito trabalho foi empregado aí, entre esses dois mundos de tantas afinidades, mas também de tantas diferenças.
O carvalho plantado precisou de rega constante, esperançosa. Precisou de tempo, de sol e de chuva.
Ambos hoje se abrigam sob sua sombra, depois de anos e mais anos de investimento mútuo.
Assim, parece simples de se entender a afirmação de Exupéry de que é inútil plantar um carvalho na esperança de, logo em seguida, imediatamente após o plantio, já poder desfrutar de sua sombra.
A árvore leva tempo para se tornar frondosa. Porém, o tempo apenas não é suficiente.


Que adiantam cem anos de solo infértil, de estiagem, de falta de sol?
Não, um carvalho não cresce sem o cuidado da natureza, assim como uma relação de companheirismo não sobrevive se não for cuidada de perto, todos os dias.
Por isso, se desejamos poder deitar e curtir a sombra de um belo carvalho, lembremos de tratá-lo todos os dias com toda nossa dedicação.
O velho e bom companheiro de amanhã poderá ser o irmão das lutas de hoje, aquele com quem temos dificuldades, mas que temos tolerado, compreendido.
O carvalho moço ainda tem pouca e vacilante sombra. Ora está aqui, ora está acolá, sacudido pelos ventos das tempestades.
O carvalho moço ainda não se vê árvore, não se crê capaz de quebrar a luz do sol gritante.
Mas se bem cuidado vai se fortalecendo, agigantando a copa, e se tornando frondosa árvore.
O velho e bom companheiro de amanhã é o amigo que nos estende a mão hoje, e não permanece muito tempo na espera de outra que o ampare. 

citação de Saint-Exupéry, do livro Felicidade, amor e amizade, ed. Sextante

* * *
Velho companheiro, de mil aventuras;
Quantas experiências, vivemos os dois.
... Coisas que me ensinaste, para nada serviam...
Mas bem me dizias: servirão depois.
Sempre me aconselhaste: na justa medida,
Vai gozando a vida... Sem nunca esqueceres,
De praticar o bem.
Porque a gente só goza, na justa medida,
Se ajudarmos outros, a gozar também.




trecho de poema de Olímpio C. Neves,
poeta de Luanda.

domingo, 10 de julho de 2016

A lição da meninice

Quem assiste os desenhos animados, com certeza terá oportunidade de rever seus próprios conceitos. Descobrirá que o mundo novo, de felicidade, se aproxima a passos largos.
Os desenhos infantis têm se caracterizado por combater o medo e acabar com o preconceito.
Têm proliferado, nas telas dos cinemas, figuras como o abominável homem das neves, monstros, dragões, ogros e bruxas.
Todos com uma característica em comum. Demonstram que se sentem sós porque não são aceitos pelas pessoas, por causa da sua feiúra, do seu aspecto grotesco, diferente das pessoas comuns.
Demonstram que têm coração que ama, que aprecia a beleza e adora a vida.
Assim, o dragão perseguido pela cidade inteira se extasia ante as flores, toma chá com delicadeza e toca flauta doce para alegrar o dia.


O ogro, que somente deseja viver no seu pântano, se apaixona pela princesa, oferece-lhe girassóis e a protege do mal, mesmo sabendo que a deve entregar ao Lorde com quem ela vai casar.
Os monstros, que assustam as crianças nos seus sonhos, se transformam ao contato com uma menina e criam a indústria do riso, modificando sua forma de ganhar a vida. Em vez de amedrontar, passam a viver dos risos que provocam nos pequenos.
Tudo isso é fantasia. Mas nossas crianças vão aprendendo que o feio somente é feio enquanto o amor não o observa. Pois quem ama, não vê a forma externa. Descobre o interior.
O amor nasce no coração e a outro coração se dirige.
Excelente exemplo o do dinossauro perdido que é adotado por uma família de pequenos símios. Um e outros se protegem mutuamente, demonstrando que para o amor não existem barreiras.
Bom seria se absorvêssemos essas belas mensagens, nas quais sempre o bem vence o mal, o amor supera tudo, pode tudo, vence tudo.
Onde as diferenças de tamanho, raça, cor são superadas pela necessidade de viverem juntos, buscando a harmonia.
Onde, quando se descobre alguém carente de proteção, não se pergunta se ao crescer ele será mau, porque pertence a essa ou aquela raça. O importante é protegê-lo, salvá-lo.
Onde o respeito aos mais velhos se faz presente, reconhecendo que se eles já não conseguem andar tão rápidos, precisam de alguém que fique para trás e os ajude.
Onde, mesmo em nome da sobrevivência, não se pode ser egoísta, porque o mais importante não é sobreviver a qualquer preço, mas viver com a consciência tranquila e o coração leve.

* * *
O mundo precisa de cérebros que visem somente o bem do seu semelhante, de corações que amem a todos. Enfim, de homens e mulheres com disposição para levantar a bandeira da paz, da concórdia e da harmonia, apesar de todas as diferenças.
* * *
Robert Fulghum disse que a sabedoria se encontra no jardim de infância.
Ali se aprende a compartilhar tudo, não bater nas pessoas, limpar a própria bagunça, não tomar o que não lhe pertence, pedir perdão ao ferir alguém.
Tomemos qualquer desses pontos e apliquemos ao sofisticado mundo dos adultos, à vida familiar, ao trabalho, ao governo e imaginemos o tipo de mundo que teríamos se todos continuássemos a nos comportar como fazíamos quando crianças, antes que o tempo nos colocasse a capa da frieza, da indiferença, da ambição e do egoísmo.
Pensemos nisso.

Pensamentos finais do cap. Tudo aprendi no jardim de infância,
de Robert Fulghum, do livro Um presente especial, 

de Roger Patrón Luján, ed. Aquariana.

sábado, 9 de julho de 2016

Festa Julina


Um jeito de escapar do inferno

Mohandas Karamchand Gandhi foi um homem fabuloso e inesquecível.
Seu conhecimento sobre as leis de Deus é digno de nosso mais profundo respeito e admiração.
Uma das mais belas passagens de sua vida é relatada com competência pelo cineasta britânico Richard Attenborough.
O filme mostra a sangrenta guerra civil que se seguiu à divisão da Índia em Paquistão muçulmano e Índia hindu.
As mortes só trouxeram retaliações e mais vítimas, até que Gandhi, líder espiritual respeitado por hindus e muçulmanos, iniciou um jejum e jurou que não comeria até que a matança terminasse, mesmo que isso significasse sua morte por inanição.
Esse foi apenas um dos muitos jejuns de Gandhi defendendo a não-violência.
Um hindu enlouquecido visitou o Mahatma e, ao chegar aos pés da cama onde estava, atirou-lhe um pedaço de pão enquanto gritava:
Eu já vou para o inferno e não quero a culpa da sua morte também em minha alma! Coma, por favor!
Gandhi, sereno como sempre, replicou:
Por que você vai para o inferno?
O hindu tremia ao responder:
Eu tinha um filho pequeno, mais ou menos deste tamanho, que foi assassinado pelos muçulmanos. Então, eu peguei a primeira criança muçulmana que consegui encontrar e a matei, arrebentando-lhe a cabeça contra uma parede.
Gandhi fechou os olhos e chorou por dentro.
Depois se recompôs, pois sabia da importância de seu papel perante aquele povo e, com esperança na voz, disse:
Eu conheço um jeito de escapar do inferno.
Muitos meninos agora estão sem os pais por causa da matança. Encontre um menino muçulmano, com mais ou menos este tamanho - repetindo o gesto feito pelo visitante há pouco – e o crie como se fosse seu. Adote-o.
O homem desorientado estava admirado com a proposta, e tentava assimilá-la da melhor forma. Uma brisa de esperança chegou-lhe ao rosto.
Porém, Gandhi não havia terminado sua fala:
Atente apenas para um detalhe: você não deve esquecer que deverá criá-lo como um muçulmano.
O hindu não estava preparado para aquela proposta. Era muito diferente de tudo que sentia, de tudo que pensava. Era uma proposta revolucionária.
Era a revolução da lei do amor, ensinada por Gandhi, de forma magistral.
O homem caiu aos pés do mestre. A loucura abandonou seus olhos, que choravam copiosamente.
Gandhi colocou as mãos na cabeça do hindu, abençoando-o do fundo de seu coração, desejando que ele pudesse aceitar seu novo caminho, o caminho para sair do inferno.
Quando o hindu saiu, ele tinha um pouco de paz no coração, e uma proposta da lei do amor em suas mãos: proposta de perdão e de autoperdão.
* * *
Nada como o amor, em toda sua resplandecência, para nos libertar desse estado d’alma de inferno.
Sim, já somos capazes de entender que o inferno não é um local delimitado no espaço, mas um estado d’alma temporário.
Para alguns, desorientados e reincidentes nos mesmos erros, esse estado de espírito parece uma eternidade, mas essa dita eternidade dura apenas o tempo do aprendizado, o tempo do despertar para o amor.
O amor cobre uma multidão de pecados, conforme tão bem afirmou o Apóstolo Pedro.
A lei de causa e efeito abraça-se à lei da amorosidade e ambas, interligadas sempre, carregam-nos para a tão desejada felicidade. 


 

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Quais são os fatores que destroem os seres humanos


“Perguntaram a Mahatma Gandhi 
Quais são os fatores que destroem os seres humanos.
Ele respondeu:
A Política, sem princípios;
o Prazer, sem compromisso;
a Riqueza, sem trabalho;
a Sabedoria, sem caráter;
os negócios, sem moral;
a Ciência, sem humanidade;
a Oração, sem caridade.
A vida me ensinou que as pessoas são amigáveis, se eu sou amável,
que as pessoas são tristes, se estou triste,
que todos me querem, se eu os quero,
que todos são ruins, se eu os odeio,
que há rostos sorridentes, se eu lhes sorrio,
que há faces amargas, se eu sou amargo,
que o mundo esta feliz, se eu estou feliz,
que as pessoas ficam com raiva quando eu estou com raiva,
que as pessoas são gratas, se eu sou grato.
A vida é como um espelho: se você sorri para o espelho, ele sorri de volta.
A atitude que eu tome perante a vida e’ a mesma que a vida vai tomar perante mim.
“QUEM QUER SER AMADO, AME!”



quarta-feira, 6 de julho de 2016

Deus cria as flores, o homem idealiza o jardim

O espetáculo da primavera explodindo em flores e cores é deslumbrante.
Quase inacreditável, não ocorresse todos os anos, que, após os meses de inverno, com temperaturas extremamente baixas, haja tal profusão de botões e flores se abrindo aos beijos do sol.
Árvores, até há pouco desnudas, se vestem de verdes variados e se engalanam com folhas.
Mas o espetáculo que o homem monta com árvores, plantas, folhagens e flores é sempre indescritível.
Em determinados locais, o encantamento extrapola tudo que se possa pensar em colorido. Assim é, por exemplo, no jardim de Kawachi Fuji, localizado a cerca de seis horas da capital japonesa, Tóquio.
Nesse jardim, nada menos do que cento e cinquenta pés de glicínias chinesas atraem as vistas dos turistas, especialmente no túnel, que permite ocaminhar sob um encantador céu, repleto de cor e perfume.
Também em Mainau, a famosa ilha, no lago de Constança, na Alemanha, a diversidade de flores, árvores e plantas excede o comum.
Carvalhos e cedros frondosos dão ao local uma silhueta elegante, além de uma legião de plantas de vasos e uma valiosa coleção de árvores cítricas.
De junho a agosto, cerca de nove mil roseiras de quatrocentos tipos diferentes oferecem suas rosas. Além das cores, dos perfumes, da textura das pétalas de cada flor, encantam os visitantes as formas compostas pelos jardineiros.
Em Bruxelas, na Bélgica, a cada dois anos, a cidade se transforma num palco de grande espetáculo: um enorme tapete de begônias é montado, formando uma composição belíssima, cuja vista é gratuita para todos os passantes.
A Bélgica é a maior produtora de begônias do mundo. Todas as flores do tapete são verdadeiras e cultivadas no próprio país.
Embora sem solo, elas são colocadas lado a lado, de forma tão apertada, que criam seu próprio microclima, permanecendo frescas e coloridas por dias.
Enfim, em todas as cidades, praças e parques do mundo é possível encontrar a policromia das flores ajustada pela mão humana.
O homem é genial na elaboração de figuras geométricas em canteiros, misturando cores, idealizando belezas.
Em qualquer jardim, por menor que seja, até mesmo na pequena sacada de um apartamento, se poderá ver o que faz a mão humana com a produção Divina.
É mesmo assim: Deus cria as flores e o homem compõe os jardins.
Une-se a genialidade infinita de Deus à criatividade humana e o resultado é o que extasia os nossos olhos e o Espírito.
Nesses momentos, a alma se sente mais próxima de seu Criador, Pai e Senhor.
E o homem se sente feliz compondo esses poemas de cor e perfume, utilizando-se da essência Divina que em sua intimidade dormita.
Nessa cumplicidade de arte, mais uma vez atesta-se da grandeza do Criador. Ele poderia ter feito tudo sozinho. No entanto, desejou que o homem se tornasse colaborador constante.
Por isso é que o homem todos os dias se supera, engendrando mais e mais versos em cores e poesias de perfumes.
Deus cria as flores, o homem idealiza os jardins.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Um sonho que findou...

Imagine se um dia o homem inventasse um aparelho para escutar pensamentos! Imagine que esse aparelho pudesse detectar os pensamentos de quem se prepara para nascer. Se isso acontecesse, é possível que ouvíssemos algo mais ou menos assim:
Enfim, vou realizar o meu grande sonho! Um sonho grandioso demais para mim. Para algumas pessoas, pode parecer banal porque, com certeza, elas nem sequer compreendem como ele é precioso.
Mas, é o meu sonho. O meu desejo mais intenso: viver. Depois de muitos, muitos planos, muito tempo de expectativa, vou viver!
Vou ganhar a vida como oportunidade inestimável para crescer, aprender, realizar, amar, ter a chance que todos têm de construir e gravar na Terra sua passagem por ela.
Vou nascer. Faltam alguns meses, mas eu já estou completo há semanas.
O dia de eu ver a luz do sol, de sentir o ar entrar em meus pulmões está perto. Ah, como deverá estar a cor do céu nessa hora?
Estou ansioso para sentir o cheiro de minha mãe. Qual a cor dos seus olhos? O que será que verei primeiro: o seu sorriso de felicidade ou a sua lágrima de agradecimento a Deus?
Quem irá me balançar primeiro no colo, ela ou papai? Meu pai! Como será sua voz, suas mãos? Decerto devem ser grandes, bem maiores do que as minhas. Assim eu me sentirei bem protegido e amparado.
Vou adorar correr pela casa, procurando você, mamãe. Vou tomar banho cantando e rir de suas brincadeiras.
Você me verá perder o primeiro dentinho e tomará da minha mão para me ensinar a desenhar as primeiras letras. E eu vou escrever bem bonito, bem grande, dentro de um coração: mamãe!
* * *
Sonho, sonhei até há pouco. Mas hoje meu grande sonho foi transformado em pesadelo. Gritei por minha mãe porque ouvi dizer que a gente grita pela mãe, quando está com medo.
E eu tive tanto medo. Gritei. Mas ninguém me ouviu! Fui sentindo cada golpe da lâmina afiada. Encolhi-me, tentei fugir, mas não tinha para onde ir.
O ninho quente de amor se transformou numa câmara ensanguentada de morte.
Nem em todas as guerras se planejou câmara mais eficiente de matar. Um lugar onde o condenado não tem voz, não pode correr, não tem como se defender e nem querem saber se ele está sentindo alguma coisa.
* * *
Sonhei um sonho impossível. Sonhei um sonho de vida e amor. Sonhei estar aí, com você, mamãe.
O sonho acabou, a vida foi apagada e uma grande dor ficou em seu lugar.
Já não sei se voltarei a sonhar um dia. No momento, faço parte daqueles que não têm o direito de sonhar com a vida.
Mas quem sabe você encontre nas crianças que conseguiram viver e foram abandonadas, alguém que tenha sonhado como eu e que está à espera de um colo arrependido e cheio de amor.
* * *
Quando formos abençoados pelas missões da maternidade e da paternidade, jamais cogitemos de destruir a vida que ainda não desabrochou no mundo.
Não pensemos nos embaraços e nos problemas que eventualmente tenhamos que enfrentar. Ao contrário, pensemos nas tantas alegrias com que a Divindade nos brindará através das carícias de ternura das mãozinhas delicadas e dos risos infantis que nos encherão os ouvidos.
E não esqueçamos que um dia nós também batemos à porta de um coração materno, rogando pousada. Porque ele nos acolheu, agora estamos aqui, eu a falar e você a me escutar.
Pensemos nisso. 

com base no texto

Aos que sonham, de Cristina Damma F. Dias, da
revista Harmonia, número 84, de outubro 2001.
Aos que sonham, de Cristina Damma F. Dias, da
revista Harmonia, número 84, de outubro 2001.


segunda-feira, 4 de julho de 2016

A maior solidão

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absolutode si mesmo,o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo.
Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete.
Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.
* * *
Se experimentas solidão no teu diaadia, faze uma análise cuidadosa da tua conduta em relação ao teu próximo, procurando entender o porquê da situação.
Sê sincero contigo mesmo, realizando um exame de consciência a respeito da maneira como te comportas com os amigos, com aqueles que se te acercam e tentam convivência fraternal contigo.
Se és do tipo que espera perfeição nos outros, é natural que estejas sempre decepcionado, ao constatares as dificuldades alheias, olvidando, porém, que também és assim.
Se esperas que os outros sejam generosos e fiéis no relacionamento para contigo, estuda as tuas reações e comportamentos diante deles.
A bênção da vida é o ensejo edificante de refazimento de experiências e de conquistas de patamares mais elevados, algumas vezes com sacrifício...
Não te atormentes, portanto, se escasseiam nas paisagens dos teus sentimentos as compensações do afeto e da amizade.
Observa em derredor e verás outros corações em carência, à tua semelhança, que necessitam de oportunidade afetiva, de bondade fraternal.
Exercita com eles o intercâmbio fraterno, sem exigências, não lhes transferindo as inseguranças e fragilidades que te sejam habituais.
É muito fácil desenvolver o sentimento de solidariedade, de companheirismo, bastando que ofereças com naturalidade aquilo que gostarias de receber.
A princípio, apresenta-se um tanto embaraçoso ou desconcertante, mas o poder da bondade é tão grande, que logo se fazem superados os aparentes obstáculos. À semelhança de débil planta que rompe o solo grosseiro atraída pela luz, desenvolve-se e torna-se produtiva conforme a sua espécie...
Observa com cuidado e verás a multidão aturdida, agressiva, estremunhada, que te parece antipática e infeliz.
Em realidade, é constituída de pessoas como tu mesmo, fugindo para lugar nenhum, sem coragem para o autoenfrentamento.
* * *
Contribui, jovialmente, quanto e como possas, para atenuar algum infortúnio ou diminuir qualquer tipo de sofrimento que registres.
Esse comportamento te fará muito bem e, quando menos esperes, estarás enriquecido pela afetividade que doas e pela alegria em fazê-lo.

Basedo no texto Da solidão, de Vinícius de Moraes, da obra Para viver um grande amor, psicografia de Divaldo Pereira

domingo, 3 de julho de 2016

Quando os anos dobram...

Eu recordo, falava a senhora, no círculo de amigas, como eu era.
Impetuosa, falava sem pensar. Dizia o que me vinha à cabeça e achava que era dona do mundo.
Caprichosa, queria as coisas do meu jeito e gritava, e exigia, sem parar.
Meticulosa, atinha-me a mínimos detalhes. Arrumava o quadro que estivesse um milímetro torto na parede, arrumava o enfeite sobre a mesa.
Entrava em casa e meus olhos procuravam algo que estivesse fora do lugar, para eu ter o prazer de colocar no lugar. E reclamar de quem não o colocara exatamente como eu desejava.
Meu armário de roupas era impecável. Todas as roupas alinhadas, divididas por estação, por cores.
Eu podia procurar uma roupa no escuro e a encontrar. Mas, ai de quem ousasse mexer no armário.
Eu tinha a capacidade de saber se alguém sequer abrira o armário. E era motivo para uma grande discussão.
Tinha os livros em uma grande biblioteca. Separados por autor. Por assunto. Tudo em absoluta ordem alfabética, para facilitar a busca.
Naturalmente, ninguém podia tocar nos livros a não ser que eu apanhasse a obra e a entregasse em mãos.
E as recomendações eram inúmeras. “Cuidado com a capa. Não amasse. Lave bem as mãos antes de abrir o livro.”
Sim, eu era assim. Nada do que qualquer pessoa fizesse era suficientemente bom para mim.
Eu fazia a limpeza da casa, porque ninguém fazia como eu. E consumia as horas em ordenar, alinhar, agrupar, ajustar. Para tudo ficar sempre impecável. Um brinco.
O tempo passou. E descobri que eu estava errada em muitas coisas.
Quando minha irmã partiu, bruscamente, levada por um acidente de carro, senti o coração despedaçar.
Então, olhando a casa vazia da sua presença, me perguntei de que valia tudo estar em ordem, impecável?
Eu daria tudo para que ela estivesse ali, e entrasse e bagunçasse os meus livros, a minha louça, as minhas coisas.
Queria vê-la abrir meu armário e escolher uma roupa para vestir, retirando da ordem tanta coisa que estava ali, parada, sem uso.
Depois, partiu meu irmão, minha mãe. Um a um, eles se foram.
E, a cada partida, eu fui descobrindo que o bom é se ter a casa para as pessoas entrarem e se sentirem bem. Viverem, sem serem sufocadas.
Descobri que mais importante do que tudo, aquelas presenças agora ausentes é que davam mesmo sentido à minha vida.
E, então, eu mudei.
Ainda gosto, sim, das coisas arrumadas, em ordem. Mas, sem exageros.
Meus sobrinhos entram em minha casa e brincam. E pulam, sentindo-se à vontade.
Sento-me com eles no chão para folhear os livros, ler histórias, olhar gravuras.
E enquanto lemos, comemos pipoca, chocolate. Tomamos suco.
Como é bom saborear histórias com alguém ávido de curiosidade. Mesmo que tenha os dedinhos sujos de chocolate ou engordurados pela pipoca.
Meu armário de roupas já não anda tão intocável assim. As sobrinhas adoram procurar algo diferente para usar. Nem que seja para o baile à fantasia com suas amigas.
Aprendi a aceitar o trabalho alheio e respeitá-lo, agradecendo.
As horas que passaria encerando, limpando, lustrando, lavando, eu dedico às crianças, aos jovens, aos meus amores.
Sim, eu mudei muito. A vida me ensinou.
Pena que eu tenha precisado receber tantos recados de perdas, para poder aprender.
Poderia ter sido muito mais feliz, desde há muito tempo.
Agradeço a Deus, no entanto, ter acordado a tempo de ainda desfrutar muitas alegrias, na Terra.
Sinceramente espero que nenhuma de vocês precise passar por isso para aprender.

Momento Espírita, v. 7, ed. FEP


sábado, 2 de julho de 2016

O garfo e a morte

O anúncio da chegada de Martha sempre trazia um sorriso para o rosto do Padre Jim. Tia Martie, como todas as crianças a chamavam, parecia espalhar fé, esperança e amor onde quer que fosse.
Mas, dessa vez, havia algo diferente em sua expressão. Com o rosto sério, ela contou ao padre que o médico acabara de lhe dar a notícia de que ela estava com câncer em estágio avançado.
Ele disse que eu tenho, na melhor das hipóteses, três meses de vida. As palavras de Martha eram graves, embora estivesse bastante calma.
Eu lamento muito..., foi o que Padre Jim começou a dizer mas, antes que ele terminasse a frase, Martha o interrompeu:
Não lamente. Deus tem sido bom comigo. Tive uma vida longa e feliz e estou pronta para ir. O senhor sabe disso.
Mas, o que desejo mesmo falar com o senhor é sobre meu funeral. Tenho pensado nisso e há coisas que vou querer.
Os dois conversaram por um bom tempo. Falaram sobre os cânticos e as passagens bíblicas preferidas de Martha, e as muitas lembranças que dividiram, nos cinco anos, em que o Padre Jim esteve na paróquia.
Quando parecia que tinham visto todos os detalhes, Tia Martha parou, olhou para o padre com um brilho nos olhos e acrescentou: Há mais uma coisa. Quando me enterrarem, quero minha velha bíblia em uma das mãos e um garfo na outra.
O pedido surpreendeu o Padre Jim: Por que a senhora quer ser enterrada com um garfo?
E ela explicou: Estive pensando em todos os jantares e banquetes da comunidade a que compareci ao longo dos anos.
Uma coisa sempre me chamava atenção. Em todas aquelas reuniões tão agradáveis, quando a refeição estava quase no final, alguém vinha recolher o prato sujo.
Posso até ouvir as palavras agora. A pessoa se inclinava sobre o meu ombro e dizia baixinho: “Pode ficar com seu garfo!”
O senhor sabe o que isso queria dizer? Que a sobremesa estava vindo!
E não se tratava de um pote de gelatina, um pudim ou uma taça de sorvete, porque nada disso se come com garfo. Significava que era algo realmente gostoso: um bolo de chocolate ou uma torta de cereja!
Quando me diziam que eu podia ficar com o garfo, eu sabia que o melhor ia chegar. É exatamente sobre isso que quero que as pessoas falem no meu funeral.
Elas podem lembrar todos os bons momentos que tivemos. Isso será ótimo. Mas, quando passarem pelo meu caixão, quero que se espantem e perguntem:
“Para que o garfo?” E quero que o senhor lhes diga que eu fiquei com o garfo porque o melhor ainda vai chegar.

* * *
Vivei bem e bem sabereis morrer, diz o ditado oriental.
Nosso comportamento, nossas atitudes e conquistas, durante a vida, irão determinar o que encontraremos no mundo espiritual quando partirmos.
Sejamos, assim, homens e mulheres de bem, e tenhamos a plena certeza de que a felicidade e a alegria da vitória estarão nos aguardando.
A melhor preparação para esse acontecimento certo em nossas existências é a vida no bem, é o desapego dos bens materiais, e o amor que cultivarmos por todos aqueles que nos cercam.
Dessa forma, poderemos ter a certeza de que o melhor ainda vai chegar.

Roger William Thomas
do livro Histórias para aquecer o coração, v.2,
de Jack Canfield e Mark Victor Hansen, ed. Sextante.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Apelo de Amigo


Não se deprecie.

Não diga que você não merece a bênção de Deus.

Atendamos à realidade. 


Se a Divina Providência não confiasse em você, não teria você em mãos tarefas importantes quanto estas:
uma criatura querida a proteger; alguém a instruir; uma casa a sustentar;
um doente para assistir; uma profissão a exercer; esse ou aquele encargo, mesmo dos mais simples;
algum ensinamento a compor; essa ou aquela atividade de auxílio aos semelhantes;
algum trato de terra a cultivar; determinada máquina para conduzir.
Se a Sabedoria da Vida nada esperasse de você não lhe teria doado tantos recursos, quais sejam:
a inteligência lúcida que auxilia a discernir o certo do errado;
a noção do bem e do mal; as janelas dos cinco sentidos; a capacidade mental cujas manifestações você pode aprimorar ao infinito, empregando o esforço próprio;
a visão do corpo e da alma com que você realiza prodígios de observação e de análise;
a palavra, que você é capaz de educar, e com a qual você encontra as maiores possibilidades de renovar o próprio destino;
a audição com que recolhe mensagens de todos os setores da existência tão só pelo registro de sons diferentes;
as mãos que lhe complementam os braços, expressando-se por antenas hábeis de serviço;
as faculdades genésicas que, iluminadas pelo amor e dirigidas pelo senso de responsabilidade, lhe conferem poderes incomparáveis de criatividade nos domínios do corpo e do espírito;
os pés que transportam você, atendendo-lhe a vontade.
Se você detém maiores áreas de ação ou usufrui vantagens mais amplas, no que se reporta aos encargos e benefícios aqui relacionados, então você já obteve significativas promoções nos quadros da vida.
Quanto a imperfeições ou deficiências que ainda nos marquem, convém assinalar que estamos em evolução na Terra, sem sermos espíritos perfeitos.



Reflitamos nisso e aceitemo-nos como somos, procurando
melhorar-nos e, ao melhorar-nos, estaremos construindo o caminho certo para a Espiritualidade Maior. 

 
André Luiz pelo médium Chico Xavier